CMA-J

Colectivo Mumia Abu-Jamal

O lado omitido da questão dos refugiados...

 
… é a causa da sua existência, ou seja, as guerras de desestabilização e de “reordenamento” de países inteiros que estão a ser travadas no Iraque, na Síria, no Líbano, mas também no Yemen, no Afganistão, seguindo os interesses e as linhas mestras de orientação geo-políticas esboçadas num grande país do outro lado do Atlântico, país esse que conta com o apoio maciço dos antigos poderes coloniais, como o da França de Holland (“socialista”) e o do Reino Unido de Cameron (neoconservador).
 
Curiosamente são estes os países que, desde o início, ou se opõem (RU), ou (França e países amigos) colocam entraves à entrada dos refugiados – os miseráveis dos miseráveis -, assim dando um exemplo de chauvinismo feroz aos outros países da UE, incitando e reforçando o racismo e as correntes nazis no seu interior.
 
A tão benevolente Alemanha entretanto já mudou o seu “Direito a Asilo”, esvaziando-o por completo, discutindo até a introdução de campos de ... (lembram-se?!) nas fronteiras onde a polícia fronteiriça teria a competência de chutar logo os refugiados, considerados não-candidatos ao estatuto de refugiado. Isto significa a introdução do ESTADO POLICIAL. Há quem considere isso mais um passo na fascização do sistema político alemão na sua íntegra.
 
E, como se não bastasse, o presidente duma associação empresarial alemã já sugeriu "criar" (são muito criativos) um salário inferior para refugiados – que bom, não é: porque os escravos nos campos de concentração trabalhavam por nada! Os que hoje combatem a vinda dos refugiados, de certeza, serão os “beneficiários” de amanhã dessas medidas de baixar os salários, apoios sociais, trabalhos obrigatórios para os desempregados ... - a empresa antecessora da Bayer, BASF, Hoechst, a Siemens, a Volkswagen etc. tinham campos de ... (!) trabalho ao lado das suas fábricas para os seus trabalhadores escravos durante o fascismo alemão – bastante rentáveis e quase sem custos.
 
Nos países do Médio Oriente,
  • quem se opõe à intervenção in/direta estrangeira, a fornecimentos maciços in/diretos de armamento (da Alemanha, EUA, Turquia, Arábia Saudita, Irão, Rússia, Quatar...) e de dinheiro aos vários grupos de terror islamistas na linha relígio-ideológica da Arábia Saudita, ou
  • quem, nesta situação, utiliza o apoio apenas para garantir a defesa dum projeto político possível, único e exemplar para toda a região, como é o caso dos YPG/YPJ/PYK no Kobané, no Curdistão Ocidental (Síria do Norte),

enfrenta uma propaganda ocidental ilimitada a mudar o alvo concreto conforme o interesse imediato, enfrenta o terror múltiplo dos executantes dessa política, do ISIS, do exército da Turquia e dos outros grupos islamistas armados, equipados e apoiados pelo Estado turco e pelas grandes potências e potentados regionais.
 
Por exemplo, o Estado turco fornece e apoia os ISIS na Síria, combate no Curdistão do Norte (Estado turco de L’Este) até a memória dos lutadores curdos falecidos com bombardeamentos dos seus CEMITÉRIOS.
 
Isto é uma tentativa de genocídio dos curdos!
 
Agora, poucos dias após o terrível atentado contra a manifestação em Ankara, com uma guerra de genocídio a ser travada contra os curdos pelo Estado turco, a detenção, a tortura e o assassínio de milhares de personalidades curdas do partido HDP, com cidades cercadas pelo exército turco no Curdistão do Norte, numa altura em que o ditador da Turquia e candidato a Imperador dum pretenso Império neo-otomano, encena “eleições” para se auto-entronizar Presidente eterno, a União Europeia vai financiar a Turquia ou os refugiados(?). Ou não será que antes vai financiar e apoiar o regime ditatorial turco?
 
Neste fim de semana, Merkel até vai beijar o Erdogan na Turquia e, de certeza, vai garantir o fim das críticas - levezinhas - ao estado das coisas na Turquia, prometendo ainda a perseguição implacável do PKK e o fim da liberdade política já restrita dos curdos e da esquerda turca na Alemanha – conforme consideram fontes experientes.
 
Na Síria, contra toda a propaganda, também da Amnistia Internacional, os curdos, árabes e outros, de várias orientações políticas, étnicas e religiosas estão a juntar as suas forças para combater o ISIS e os outros grupos de terror e da Turquia, por uma Síria democrática, com autonomia dos diversos grupos étnicos, religiosos, ou seja, sem Assad, sem os EUA, a França e a Turquia.
 
Esta, parece-me, é a principal forma de solucionar a questão dos refugiados.
 
O que é dizem a UE ou os EUA sobre isso?
 
E cá, os refugiados merecem todo o nosso apoio material, social e ... POLÍTICO - contra todas as vozes orquestradas numa lógica racista!
 
Isto significa, porém, também responder seriamente a pessoas com receios sociais justificáveis. Será que a causa da miséria cá e da miséria dos refugiados tem a mesma origem?
 

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