Mais um artigo do "Público" de hoje sobre violência policial...
por Andreia sanches
Quando Adrian pediu ajuda, os agentes riram-se, lê-se no acórdão. "A pedir ajuda, aqui?"
São quatro anos de prisão para dois agentes da PSP de Lisboa. Tribunal  critica defesa por tudo estar a fazer para evitar a sua  detenção.
Que a pena de prisão seja de imediato executada. É esta a decisão do  Tribunal da Relação de Lisboa (TRL) relativamente ao processo que envolve dois  agentes da PSP condenados a quatro anos de prisão efectiva depois de terem  agredido com murros e pontapés um estudante alemão na esquadra das Mercês, no  Bairro Alto, em Lisboa.
Rui Neto tem 30 anos. Osvaldo Magalhães, 31. Em 2008, quando a agressão  se deu, exerciam funções na 3.ª esquadra da PSP das Mercês. Questionada pelo  PÚBLICO, a Inspecção-Geral da Administração Interna informou que cada um dos  agentes foi alvo de processo disciplinar. Mas que os processos se encontram  ainda "pendentes".
Apesar de na semana passada a defesa ter apresentado um pedido de  aclaração do acórdão do TRL - que manteve aquela que é, tanto quanto se sabe, a  pena mais severa aplicada a agentes de polícia num caso de agressão -, os juízes  pronunciaram-se anteontem da seguinte forma: "considera-se, para todos os  efeitos", a sentença transitada em julgado.
Mais: entendem que os requerimentos e pedidos que nos últimos meses têm  sido suscitados pela defesa dos agentes são infundados e revelam que "os  arguidos, sabendo que o processo não admite recurso ordinário, e não se  conformando com a decisão definitiva já há muito proferida por este TRL,  procuram socorrer-se de todos os meios ao seu dispor para evitar (...) a sua  detenção".
Resumindo: o TRL vai apreciar o pedido de aclaração. Mas pede "imediata  execução das penas". A Direcção Nacional da PSP não fez, até à hora do fecho  desta edição, qualquer comentário. O advogado que representa os polícias, Santos  de Oliveira, diz apenas: "A defesa está a fazer tudo o que lhe compete para  defender os seus clientes." Os dois agentes sempre negaram as  agressões.
A primeira decisão deste caso é de Julho de 2011. O acórdão da 5.ª Vara  Criminal de Lisboa dá como provados os crimes de ofensa à integridade física  qualificada, coacção grave e abuso de poder. Condena Rui Neto a quatro anos e  três meses de prisão e Osvaldo Magalhães a quatro anos - apesar de considerar  como atenuante a jovem idade dos agentes (que não ganhavam mais do que mil  euros) e o facto de não terem cadastro. "Só assim é que se dignifica uma Justiça  de um Estado de direito, cuja severidade na punição não se deve ater apenas aos  criminosos que colocam em causa a segurança da comunidade, mas também aos homens  em que a população confia para zelarem pela sua defesa, ordem e tranquilidade  públicas", lê-se no acórdão. "Não há nada que mine mais a confiança do tecido  social nas forças de autoridade como actos semelhantes aos praticados pelos  arguidos", continua.
Os actos dados como provados aconteceram a 25 de Julho de 2008. Adrian  Grunert, 23 anos, estudante de Linguística em Portugal, ao abrigo do programa  Erasmus, apanhou um eléctrico com a namorada. Ela entrou, ele pendurou-se na  traseira do veículo e seguiu viagem sem pagar. No Largo Conde Barão foi agarrado  pelos dois agentes e depois levado para a esquadra das Mercês, sozinho. E foi  aqui, segundo o tribunal, que os agentes, usando luvas de couro, lhe desferiram  vários murros na cara, têmporas e orelhas. Quando o jovem tentou fugir, outros  dois agentes colocaram-se à frente da porta da sala. Depois de empurrado, caiu  no chão, foi pisado, recebeu pontapés nas costas e no peito. Quando pediu ajuda,  riram-se, lê-se no acórdão. "A pedir ajuda, aqui?"
Foi obrigado a despir-se totalmente, a colocar-se de cócoras e a  baixar-se e elevar-se algumas vezes. Tinha consigo 0,2 gramas de haxixe. Mas os  agentes não elaboraram nenhum auto de ocorrência - para relatar esse facto, ou  qualquer outro. Mal saiu das Mercês, foi à esquadra da Lapa apresentar queixa.  E, de seguida, ao hospital que registou traumas no corpo, hematoma  retroauricular, escoriações no cotovelo, no hipocôndrio, nas  costas.
Os arguidos contestaram. Em Outubro de 2012, o TRL manteve a pena da 1.ª instância. Seguiu-se um novo pedido de nulidade. A sentença manteve-se. A defesa  pode ainda recorrer ao Supremo Tribunal, mas este não aprecia casos com penas  inferiores a cinco anos, segundo o advogado Carlos Paisana, que representa  Adrian.

 
 
 
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