Justiça para o Iraque, julgamento dos
responsáveis pela agressão
Comunicado da Comissão Coordenadora do Tribunal-Iraque
Comunicado da Comissão Coordenadora do Tribunal-Iraque
Os dez anos decorridos sobre a invasão do Iraque exigem uma evocação e um balanço.
Desde 20 de Março de 2003, um milhão e meio de iraquianos morreram em
consequência da guerra. Cinco milhões
de pessoas estão deslocadas no interior ou no
exterior do país. Há um milhão de
viúvas e cinco milhões de órfãos. Estes números foram divulgados em Fevereiro de 2012 pelo
Conselho dos Direitos Humanos da ONU.
Não falando já do embargo que estrangulou o Iraque entre 1991 e 2003, nos últimos
dez anos as forças militares dos EUA e
dos seus aliados procederam a ataques
deliberados contra a população civil,
tanto em operações terrestres como aéreas. Fizeram uso de armas proibidas com
consequências devastadoras, imediatas e a longo prazo, para as pessoas, os solos, as águas e
o meio ambiente. Estes factos são testemunhados por estudos científicos
independentes, designadamente os que se debruçaram sobre o caso da cidade de Faluja.
Os ocupantes destruíram toda a organização estatal e social iraquiana. Instauraram
um regime político da sua
conveniência, inteiramente corrompido, fomentador de divisões sectárias, religiosas ou étnicas.
Montaram um sistema prisional baseado em detenções sistemáticas, sem acusação e sem
julgamento, na tortura e na pena de morte. Criaram um regime de terror que liquidou
centenas de professores, médicos, cientistas, artistas, jornalistas. Uma vez mais, estes factos
são confirmados por organizações independentes de direitos humanos.
A retirada oficial das tropas dos EUA, em final de 2011, não libertou o Iraque. O regime político continua sob protecção das forças militares norte-americanas, que
mantêm 15 mil tropas no terreno e
asseguram a defesa aérea do Iraque, e sob a
protecção de milhares de mercenários pagos pelas grandes companhias que exploram
protecção de milhares de mercenários pagos pelas grandes companhias que exploram
os recursos iraquianos.
Desde as primeiras semanas da ocupação, a população iraquiana resistiu como pôde,
com e sem armas. Uma guerrilha tenaz,
disseminada por todo o território, fez perto de
cinco mil mortos e dezenas de milhares
de feridos entre as forças ocupantes. Em 2011,
acompanhando a onda de sublevações no
mundo árabe, e desde o final de 2012,
grandes movimentos civis levantaram-se
e prosseguem hoje em todo o Iraque. Tais
movimentos defendem quer objectivos
políticos nacionais, como a unidade do país e a
rejeição do sectarismo, quer
exigências do dia a dia, como trabalho, condições sanitárias e educacionais, libertação dos presos
políticos, justiça.
A resistência é hoje uma movimentação
que mobiliza centenas de milhares de
pessoas em todo o território iraquiano
e que afronta o poder instalado em Bagdade pelos imperialistas norte-americanos e
britânicos.
A cumplicidade portuguesa nesta tragédia não pode ser esquecida. Importa lembrar a
colaboração de Durão Barroso e de
Paulo Portas (então chefe de governo e ministro da
Defesa) na agressão. A tolerância de
Jorge Sampaio (então presidente da República)
perante a decisão da cimeira das
Lajes. A colaboração prática na ocupação traduzida no envio de forças da GNR e do agente
José Lamego. A gula de empresas portuguesas
diante do frutuoso negócio da
“reconstrução” subsequente à destruição. O apoio dado aos EUA nos raptos praticados através do
chamados voos da CIA.
Importa ainda lembrar que todos os
dirigentes políticos do país desde então
mantiveram a mesma atitude de
subserviência e que esta colaboração os torna cúmplices nos crimes cometidos e amarra o país
aos crimes do imperialismo.
Importa sobretudo lembrar que esta
política foi levada a cabo contra a vontade
manifesta da população portuguesa,
largamente contra a agressão e o envolvimento do
país na guerra.
Na sequência das posições que tem tomado, o Tribunal-Iraque reitera o
reconhecimento do direito do povo
iraquiano à plena soberania. Exige a retirada de todas as forças ocupantes e o fim de
qualquer tutela estrangeira sobre o Iraque. Defende o pagamento, pelos invasores, de
reparações de guerra. Reclama o julgamento dos responsáveis pela invasão e pelos
crimes entretanto cometidos.
O Tribunal-Iraque exige das autoridades
portuguesas uma mudança completa na
política seguida a respeito do Iraque
(e prosseguida nos casos das agressões à Líbia e à
Síria), desvinculando-se das agressões
do imperialismo norte-americano e da União
Europeia e procedendo a uma defesa
activa da Carta das Nações Unidades e do Direito
Internacional.
Comissão Coordenadora do Tribunal-Iraque 19 de Março de 2013
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