NO QUINTO ANIVERSÁRIO DA OPERAÇÃO “CHUMBO FUNDIDO”
Cidade de Gaza, 27 de Dezembro de 2008. É um sábado e pouco falta para o meio-dia. As crianças regressam da escola e as ruas estão repletas de pessoas. Poucos minutos mais tarde, mais de 200 estarão mortas e cerca de sete centenas estarão feridas. Israel acaba de desencadear o seu covarde ataque que baptiza de “Operação Chumbo Fundido”. Dezenas de caças F-16, helicópteros Apache e veículos aéreos não tripulados bombardeiam, em simultâneo, mais de uma centena de locais em toda a Faixa de Gaza. Nos dias seguintes, continuam os bombardeamentos, culminando numa invasão terrestre em 3 de Janeiro de 2009. Quando termina a operação, em 18 de Janeiro, debaixo de forte pressão internacional e dois dias antes da tomada de posse de Barack Obama, deixa mais de 1400 mortos palestinos – entre os quais 138 crianças – e um enorme rasto de destruição que paralisa a vida de Gaza.
A operação foi cuidadosamente planeada ao longo de meses e as vítimas civis não são “danos colaterais”. São uma consequência da política de terror (doutrina Dahiya) que Israel tinha testado no Líbano em 2006 e que visa provocar o grau máximo de destruição e de sofrimento nas populações para as levar a revoltar-se contra os seus governantes. A população de Gaza estava ser punida por, em eleições internacionalmente reconhecidas como livres e democráticas, ter dado ao seu voto aos candidatos errados, na óptica de Israel e seus aliados.
Inquéritos conduzidos por investigadores internacionais isentos reunirem evidência de que Israel tinha cometido inúmeros crimes de guerra durante a “Operação Chumbo Fundido”. Estão documentados, nomeadamente, os massacres das famílias Samouni e Al-Daya, o assassinato de portadores de bandeiras brancas, a utilização de bombas incendiárias de fósforo branco em áreas populacionais, a interdição de prestação de socorro a vítimas.
A “Operação Chumbo Fundido” chocou o mundo civilizado pela sua dimensão e brutalidade. Mas não podemos esquecer que, no prosseguimento da sua política de limpeza étnica da população palestina, que vem pondo em prática desde a sua fundação em 1948, o Estado de Israel, todos os dias, em maior ou menor escala, leva a cabo agressões contra palestinos, cerceando-lhes direitos humanos fundamentais, inviabilizando a constituição do Estado Palestino com total desrespeito pelo direito internacional e humanitário.
Ainda na semana passada, as forças armadas israelitas mataram um habitante de Gaza que procurava sucata dentro da “zona tampão de segurança” (esta “zona” estende-se entre 500 e 1500 metros dentro da Faixa de Gaza, ocupando cerca de 17% do território e 35% da terra arável, afectando a vida de mais de 100.000 habitantes de Gaza). Já esta semana, em Gaza, na terça-feira, uma criança de três anos foi morta e a sua mãe e irmão foram feridos num ataque retaliatório conduzido pela força aérea de Israel, e, na quinta-feira, novos ataques punitivos com mísseis feriram mais dois palestinos. Enquanto isto, Israel anuncia planos para construção de mais 1.400 casas de colonos, em Ramat Shlomo (Jerusalém Leste) e na Margem Ocidental, em claro desafio aos apelos dos Estados Unidos e da União Europeia para viabilizar o frágil processo de paz que John Kerry tenta pôr de pé.
Neste quinto aniversário da bárbara agressão contra a população indefesa de Gaza, evoquemos a memória das vítimas mas, conscientes de que só a solidariedade internacional pode reverter este estado de coisas, unamo-nos para exigir que, ao povo palestino, seja reconhecido o seu direito a viver em paz e liberdade no seu Estado soberano e independente, nos territórios que Israel ocupa desde 1967, com Jerusalém Leste como capital, e com uma solução justa para os direitos dos refugiados.
Lisboa, 27 de Dezembro de 2013
A Direcção Nacional do MPPM
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