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Colectivo Mumia Abu-Jamal

Milhares em funeral de palestiniano morto em prisão israelita


in Público Por Maria João Guimarães

A questão dos prisioneiros é especialmente sensível para os palestinianos. A morte de um detido numa prisão israelita levou a protestos violentos e a imprensa do Estado hebraico repete temores de uma nova revolta palestiniana.

in Público 25.02.2013
"O funeral de Arafat Jaradat, um palestiniano de 30 anos que morreu na prisão, depois de ter sido detido por Israel por atirar pedras a israelitas ferindo um, marcou hoje um novo dia de violência.
Os palestinianos dizem que Jaradat, um homem casado, pai de dois filhos, que trabalhava numa bomba de gasolina em Hebron, foi torturado pela polícia israelita. Israel diz que os ferimentos que foram descritos na autópsia poderiam ter sido provocados por uma tentativa de reanimação (antes da autópsia, que ainda não permite conclusões, tinha afirmado que um ataque cardíaco teria sido responsável pela morte).
Enquanto milhares de pessoas assistiram ao funeral perto de uma pequena cidade na zona de Hebron (um dos pontos mais conflituosos da Cisjordânia devido à presença de colonos judaicos, protegidos pelo exército israelita, no centro da cidade, de maioria palestiniana), centenas envolveram-se em confrontos com as forças israelitas, com palestinianos a atirar pedras e os soldados a usarem gás lacrimogéneo.
Houve violência em Hebron, Belém, e Ramallah – nesta última, segundo o Jerusalem Post, 26 palestinianos foram feridos, alguns por balas reais.
A questão dos prisioneiros é das mais sensíveis para a opinião pública palestiniana. Os cerca de 4700 palestinianos que estão nas prisões israelitas são vistos como heróis. Cerca de 300 entre estes prisioneiros estão em detenção administrativa (invocando razões de segurança, Israel pode manter os detidos nas prisões durante períodos de seis meses renováveis indefinidamente), o que foi aliás um dos motivos para a última greve de fome, em Abril do ano passado.
Depois de feita a autópsia a Jaradat , o ministério da Saúde de Israel diz que não é ainda possível determinar a causa da morte. O ministro palestiniano para os prisioneiros, Issa Qaraqi, disse que este tinha sido sujeito a “tortura” na prisão de Meggido.
Enquanto isso, a imprensa israelita, os comentadores e alguns políticos estão fixados numa palavra: Intifada.
O ministro da Segurança Interna, Avi Dichter, veio avisar para o perigo de uma revolta palestiniana. “As duas intifadas anteriores ocorreram como resultado de um grande número de mortos” durante protestos, disse.
O colunista do diário Yeditoh Ahronoth Alex Fishman escreveu, no fim-de-semana, que “a auto-estrada para a intifada está aberta” e a morte de Jaradat “pode tornar-se o tiro de partida”.
No Jerusalem Post, uma análise lembrava a diferença da dimensão dos protestos das revoltas anteriores (1987-1993 e 2000-2005) para dizer que não há uma terceira intifada – ainda. Acrescentava que a questão dos prisioneiros é especialmente delicada e “os acontecimentos podem ficar fora de controlo.”
Até entre os palestinianos a palavra não era evitada. O responsável da Autoridade Palestiniana Nabil Shaath disse numa entrevista que as forças palestinianas estavam a “fazer o seu melhor para manter a calma” mas alertou: “Não sei quanto é que as pessoas podem ser contidas. Ninguém está a planear uma intifada. A questão é o grau em que estes incidentes podem levar a uma raiva que expluda”, disse.
Os palestinianos estão já frustrados com um processo de paz inexistente desde 2010, com a construção nos colonatos israelitas e ainda com as consequências da retaliação israelita pela iniciativa na ONU em que foram aceites como membro observador – que trouxe um reconhecimento mas nenhum benefício prático. Aliás, para aliviar a tensão que resultou de a Autoridade Palestiniana não estar a pagar ordenados a tempo (médicos e professores estiveram recentemente em greve) Israel recomeçou no fim-de-semana a transferir para a Autoridade Palestiniana as verbas que tinha bloqueado dos impostos palestinianos.
A Reuters diz que para além da violência nas manifestações, um factor importante para o desenrolar da situação é a saúde de quatro prisioneiros que estão em greve de fome, um dos quais tem recusado comida, de modo intermitente, nos últimos 200 dias."

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