CMA-J

Colectivo Mumia Abu-Jamal

Israel atropela o cessar fogo

 
O exército israelita multiplica as violações do cessar-fogo que pôs termo, há dez dias, ao seu ataque sanguinário mas infrutuoso contra a Faixa de Gaza e os seus habitantes.
 
Celebrado sob os auspícios do Egipto, o cessar-fogo entre o governo palestiniano de Gaza, dirigido pelo Hamas, e o governo israelita prevê duas medidas, modestas, de aligeiramento do bloqueio desumano imposto por Israel ao território desde 2006.
 
Primeiro, Israel comprometeu-se a alargar o perímetro de saída autorizado aos pescadores palestinianos no Mediterrâneo: estes deveriam poder pescar até 6 milhas náuticas (10 km) da costa, em vez das 3 milhas actuais. Mesmo estendida a 6 milhas, a zona imposta pelo exército israelita é totalmente ilegal, mas permite aos palestinianos trazerem um pouco mais de peixe.
Vendo as suas novas provocações, até parece que Israel prepara um novo ataque de envergadura. A marinha de guerra israelita proíbe a ultrapassagem da linha das 3 milhas: segundo o relato da militante espanhola Maria del Mar Fernandez*, presente em Gaza, desde sexta-feira, Israel deteve 31 pescadores de Gaza, destruiu um dos seus barcos, roubou outro e destruiu os motores de quatro embarcações suplementares.
 
Resultado: os pescadores foram obrigados a suspender as saídas para o mar desde sábado, temendo ataques, tanto mais que a marinha israelita actualmente atira com balas reais e sem aviso, tendo deixado de utilizar os seus canhões de água.
 
Mentira e brutalidade no mar, a mesma coisa em terra: o cessar-fogo prevê também que a zona interdita da faixa de Gaza, junto à cerca electrificada que fecha o território, seja ligeiramente reduzida. O alargamento da faixa de terra adicional na qual os palestinianos poderiam cultivar as suas terras é minúsculo: 300 metros apenas, mas quando se conhece a exiguidade do território onde estão concentrados 1 milhão e meio de habitantes, cada metro quadrado cultivável conta.
 
Mas também aqui, Israel viola os seus compromissos: camponeses que queriam cultivar os seus campos nas zonas de Beit Lahya e Khan Younes foram alvejados e tiveram de renunciar, relata Maria Fernandez.
*Maria Del Mar Fernandez faz parte dos membros do Conselho de Gaza Livre. Ela tem a intenção de ficar em Gaza até ao final do ano, de onde nos enviará relatórios das suas observações, e poderá ser contactada (em inglês ou em espanhol) neste número: 00 972 (0) 595 157
« Gaza, segunda-feira 3 de Dezembro 2012 :

Nestes quatro últimos dias, os israelitas detiveram 31 marinheiros-pescadores, destruíram um barco de pesca, confiscaram um outro por 3 anos, dizem eles, e destruíram e sabotaram 4 motores de outros barcos de pesca.
Os israelitas pretendem terem deixado de alvejar os marinheiros-pescadores com canhões de água. A realidade é que os têm alvejado com balas reais. A maioria dos pescadores, os da “União de Pescadores” e os de uma outra associação de pescadores profissionais, decidiram anteontem não voltar para o mar: eles não aceitam que tantos marinheiros-pescadores sejam detidos pela marinha de guerra israelita e que tantos dos seus barcos de pesca sejam sabotados e destruídos no mar.
Um dos seus amigos pescadores está ainda detido pela marinha israelita. Tomaram também a decisão de esperar dez dias: o tempo de as negociações em curso no Cairo e relativas às modalidades do cessar-fogo serem estabelecidas, nomeadamente essa cláusula de aumentar de 3 para 6 milhas a fronteira marítima que o bloqueio israelita lhes impõe. Actualmente eles não estão certos de que a barreira marítima seja alterada para as 6 milhas esperadas.
 
Quarta-feira 5 de Dezembro, os marinheiros-pescadores e os activistas internacionais presentes manifestaram o seu repúdio pelas medidas israelitas no porto de Gaza. Fomos convidados a trazer as bandeiras dos nossos países para evidenciar o nosso apoio internacional aos palestinianos e tentar evitar mais violências israelitas.
Ontem, alguns pescadores ousaram sair para o mar, para a pesca, dizendo que preferiam a morte a parar o seu trabalho que lhes permite alimentar as famílias.
Quanto aos agricultores e os que vivem da terra, juntaram-se na zona de Beit Lahya onde fomos visitar uma das famílias. Ainda ontem, tropas israelitas atiraram sobre esses trabalhadores agrícolas e sobre os apoiantes internacionais que os acompanhavam, na zona-tampão de Khan Younis.
 
É por essa razão que Rosa, um italiano do grupo de apoiantes, nos pediu para ir apoiá-los. Mas, de manhã cedo, ele voltou a telefonar-nos para dizer que os tiros eram de balas reais, que eles se encontravam debaixo de fogo e que não poderiam evidentemente chegar às suas terras e culturas, mesmo acompanhados dos internacionais. Assim, alguns de nós fomos mesmo assim ter com eles, mas apenas para entrevistar esses camponeses impedidos de trabalhar nas suas terras.
O relatório que deveríamos todos dirigir aos deputados europeus e ao mundo é o de que Israel destrói, sabota de forma perigosa o cessar-fogo. Não é possível que pessoas de Gaza possam contentar-se com esta situação na qual lhes são negados os direitos mais elementares: a vida e a segurança de cada um e de todos.
Duas pessoas já foram mortas desde o « cessar-fogo »,uma no sul e uma no norte da faixa de Gaza, sob o fogo do último ataque israelita”.
 
Maria Del Mar Fernandez, Gaza.
(Traduit par A. Q. pour CAPJPO-EuroPalestine)
Tradução portuguesa do CSP

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