CMA-J

Colectivo Mumia Abu-Jamal

A caminho de um desastre em Gaza


A caminho de um desastre em Gaza
Israel alega que desde a sua retirada em 2005, já não controla a faixa de Gaza e não tem qualquer responsabilidade para com os cerca de 2 milhões de residentes. Tanto o governo do Hamas em Gaza como a Autoridade Palestiniana na Cisjordânia insistem em que Israel é responsável, ao mesmo tempo que se lançam culpas uns aos outros. A população de Gaza culpa as três partes, assim como a comunidade internacional. Mas o Ministério da Defesa, os serviços de segurança do Shin Bet e o Coordenador das Actividades Governamentais nos Territórios [COGAT] estão formados por pessoas cujo trabalho requer um conhecimento sobre a situação catastrófica em Gaza, que está cada vez pior.
A discussão sobre se Israel tem o controlo efectivo sobre Gaza não altera os factos: cerca de 95 por cento da água no aquífero de Gaza não é boa para beber, e a água tratada é distribuída às famílias em condições anti-higiénicas; há electricidade durante oito horas por dia ou menos; cerca de 100 milhões de litros de esgoto fluem para o mar todos os dias, tanto por causa da falta de energia como por causa dos atrasos em fazer-se chegar peças subselentes e novas bombas até Gaza; os resíduos de munições israelitas usadas afectam o meio ambiente e a saúde das pessoas de formas que ainda estão por investigar; o desemprego aumentou para cerca de 40 por cento, porque as restrições de movimento israelitas têm estrangulado a produção; e centenas de milhares de jovens que nunca saíram deste enclave sobrelotado não conhecem outra realidade.
Cada problema afecta e intensifica os outros, e é impossível separá-los. Se eles estão a aumentar a incidência de doenças em Gaza ou não cabe aos investigadores determinar. Mas de qualquer forma, milhares de pacientes não conseguem obter cuidados adequados.
Os comentadores na internet têm o direito de se mostrar indiferentes à existência de pacientes com cancro aos quais Israel – num processo desprovido de transparência e de supervisão externa – não permite de saírem de Gaza para obterem tratamento médico, ou aos quais vai atrasando a concessão de autorizações até que a doença piore ("Pacientes de Gaza com cancro: a recusa de Israel de deixar-nos entrar para obter tratamento é uma 'sentença de morte'", Jack Khoury, Haaretz, 6 de Janeiro).
Mas o COGAT, que sabia exactamente como colher benefícios de relações públicas ao deixar familiares de Ismail Haniyeh, o primeiro-ministro de Gaza, obter tratamento médico em Israel, também sabe muito bem que, quando organizações como Médicos pelos Direitos Humanos e Gisha intervêm, as restrições de segurança são frequentemente levantadas.
Os refilões da comunicação social podem dizer que não é da nossa conta o que acontece a 10 quilómetros de Sderot e a três do kibbutz Zikim. Os tomadores de decisões, pelo contrário, sabem muito bem que os esgotos ligados ao mar e as doenças infecciosas não têm fronteiras.
Que Israel seja responsável ou não, é ele que tem a chave. O seu hábito de brincar com as vidas dos pacientes, que se aproxima do sadismo, tem de parar. Israel deve criar um processo supervisionado, transparente e humano para os pacientes saírem de Gaza, como um primeiro passo para uma renovação fundamental da sua táctica falhada de bloqueio da faixa de Gaza. Ele tem de enviar água para Gaza em quantidade suficiente para salvar o aquífero e instalar linhas de electricidade adicionais para Gaza de maneira a deter a devastação ambiental. Israel tem a capacidade e a responsabilidade de evitar que o aviso da ONU se realize: o de que, em 2020, Gaza já não terá condições para a habitação humana.

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