CMA-J

Colectivo Mumia Abu-Jamal

Os Roma na Europa: culpados até que se prove que estão inocentes?

 
Estigmatização das comunidades Roma como criminosas é perturbante e perigosa, avisa Rita Izsák, especialista independente da ONU em minorias 
 
GENEBRA (29 de outubro de 2013) – “As recentes atividades de algumas autoridades nacionais no sentido de remover crianças sem aparência Roma de famílias Roma com base no seu alegado rapto levou a uma cobertura sensacionalista por parte da comunicação social, a qual tem sido perturbadora e pode resultar numa revolta perigosa contra indivíduos e comunidades Roma. Algumas entidades e meios de comunicação parecem estar a trabalhar com base no argumento de que os Roma são “culpados até que se prove a sua inocência”.
 
O caso da jovem menina loira chamada Maria, que foi encontrada a viver num acampamento Roma, na Grécia, motivou uma onda de reportagens anti-Roma, as quais fizeram as primeiras páginas de jornais em todo o mundo. Foram emitidas acusações enganadoras sobre como Maria foi roubada e abusada, mesmo antes de poder ter sido conduzida uma investigação meticulosa. As reportagens sugerem agora que, na sequência de testes ADN, Maria é filha de país Roma Búlgaros que afirmaram ter deixado voluntariamente a menina com a família Roma Grega porque não tinham condições para cuidar de Maria. O casal Grego Roma permanece em custódia devido a acusações de sequestro.

Se as investigações vierem a concluir que Maria foi raptada por estes Roma com quem viveu, então estes indivíduos certamente devem enfrentar a justiça e ser julgados à luz da lei. No entanto, há demasiada gente a acreditar em estereótipos de que todos os Roma são criminosos por natureza. Se os indivíduos Roma forem considerados culpados de um crime, este vai ser o crime desses mesmos indivíduos e não de toda a população Roma. Infelizmente, esta recente cobertura ameaça provocar uma reação ainda mais tumultuosa contra as comunidades Roma acusadas de raptar crianças e que já estão sendo sujeitas a ódios. Em vários países, famílias desesperadas com casos de crianças desaparecidas estão agora a pedir à polícia que investigue acampamentos Roma para encontrar os seus ente queridos.
 
Entretanto, as famílias Roma vêem os seus próprios filhos ser levados com base em noções simplistas fundamentadas na cor dos olhos e do cabelo de um cidadão Roma. Existem provas de atitudes inapropriadas e tendenciosas do ponto de vista étnico, conduzidas por algumas entidades e que devem cessar. O incidente recentemente verificado na Irlanda, onde duas crianças loiras Roma foram levadas dos seus pais e entregues apenas após testes ao ADN terem comprovado que eram, de facto, seus filhos é ilustrativa e deve ter sido angustiante para as famílias.
Durante gerações, as crianças Roma têm sido levadas das suas famílias devido à pobreza ou pela assunção de que os pais Roma, sendo pobres, não conseguem cuidar das suas crianças. Muitas crianças Roma desaparecem ou sujeitam-se ao risco do tráfico ou da prostituição. A educação discriminatória para com os Roma, a esterilização forçada de mulheres Roma e o assassinato de indivíduos Roma resultantes de ataques alimentados pelo ódio são apenas algumas das várias tragédias que os Roma enfrentam e que raramente têm merecido cobertura mediática. Estima-se que na Europa a população Roma ronde os 12 milhões de pessoas, existindo um longo historial de discriminação contra esta comunidade.
Solicito a todos os meios de comunicação e comentadores, nomeadamente figuras políticas e dirigentes de partidos políticos, que contenham e se abstenham de generalizações perigosas relativamente à suposta criminalidade perpetuada pelos Roma. Esta cobertura irresponsável e retórica baseada no ódio irá apenas fomentar ainda mais a estigmatização e até mesmo a violência contra indivíduos e comunidades Roma. Exorto aos jornalistas que relatem estes assuntos de forma responsável.
 
Neste momento de crise económica e de desilusão, a última coisa de que necessitamos é de promover um bode expiatório sobre aqueles que já são marginalizados.

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