O Colectivo Mumia Abu-Jamal face à catástrofe social que se advinha devido ao orçamento 2013, caso passe na Assembleia da República, não pode deixar de repudiar um orçamento que faz um ataque desbragado aos sectores como a educação, a saúde, e a segurança social , rubricas que vêm reduzidas substancialmente a atribuição de valores.
Valores que são encaminhados para a banca parasitária e para áreas como a administração interna e ministério da defesa, reforçando o aparelho repressivo para reprimir um povo cada vez mais faminto .
Por tudo isto não só estaremos presentes, como conclamamos todos a participarem neste protesto em s. Bento e noutros que se avizinham .
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Cartaz de Luis Alves |
Relatório da ACED sobre direitos cívicos e políticos em Portugal
Em Portugal ocorrem fenómenos inexplicados, como uma baixíssima taxa de participação política e cívica, um sistema judicial em si mesmo reconhecidamente obstáculo ao desenvolvimento, ausência de debate político transparente e eficaz sobre o disfuncionamento da justiça, medo dos cidadãos perante os tribunais cujas decisões são frequentemente incompreensíveis para os envolvidos e por vezes escandalosamente injustas, os mais altos procuradores da república dispõe-se a revelar publicamente a sua impotência para descobrir crimes praticados no seio da sua instituição – como fugas ao segredo de justiça – ou das polícias que tutelam – como as escutas – e, ao mesmo tempo, asseguram a ausência de crimes nas altas instâncias do Estado – como os de corrupção – contra os dados disponíveis e contra o parecer de senadores da política portuguesa. As dificuldades experimentadas em encontrar advogados capazes de se confrontarem com interesses dos poderes da banca, do Estado ou de figuras poderosas quando estes atacam simples cidadãos e as manobras de advogados em funções para evitarem indispor tais poderes em detrimento da defesa dos interesses dos respectivos constituintes, para não falar dos casos de extorsão dos constituintes em processo-crime, são outros sinais da irregularidade política e cívica da vida portuguesa.
Face aos recentes acordos comerciais entre a UE e Israel, o painel de deputados portugueses presente no parlamento europeu votou da seguinte forma: A favor estiveram os deputados Maria do Céu Padrão Neves, Paulo Rangel, Nuno Teixeira, José Manuel Fernandes, Regina Bastos, Maria da Graça Carvalho e Mário David - do PSD.
Carlos Coelho, também do PSD, absteve-se.
Votaram contra Alda Sousa e Marisa Matias - do BE Inês Zuber e João Ferreira - da CDU, Rui Tavares - do grupo Verdes, Capoula Santos, Luis Paulo Alves, António Correia de Campos, Edite Estrela e Vital Moreira - do PS .
O posicionamento na votação dos deputados portugueses em particular dos representantes do PSD diz bem de quanta é a hipócrisia que reina em gente sem escrúpulos que priviligiam um acordo comercial e o estreitamento de relações com o estado de Israel, país que diáriamente comete toda espécie de atropelos ás leis internacionais, sequestrando o povo da Palestina, sonegando as suas liberdades, prendendo e matando impunemente .
O acordo comercial ACAA entre a UE e Israel foi aprovado por 379 votos contra 230 - Como a UE recompensa os crimes contra a humanidade .
A maior parte dos judeus de Israel apoiaria a implantação de um regime de
apartheid em Israel se o país anexasse formalmente a Cisjordânia, revela uma sondagem noticiada pelo jornal Haaretz.
Colonato judeu na Cisjordânia (Laszlo Balogh/Reuter
A sondagem apresenta outros dados que apontam que a maioria dos judeus de Israel defende a discriminação contra os cidadãos árabes, escreve o jornal israelita.
Entre os inquiridos, 74% são a favor de estradas separadas para israelitas e palestinianos na Cisjordânia.
Mais de dois terços dos judeus israelitas dizem que devia ser negado o direito de voto aos 2,5 milhões de palestinianos que vivem naquele território ocupado. Um terço defende a criação de uma lei que impeça os árabes de Israel de votarem para o parlamento israelita, o Knesset.
Quando questionados sobre se os judeus deviam ser preferidos aos árabes na escolha para cargos na administração pública, 59% responderam afirmativamente; 49% disseram que os cidadãos judeus deviam ser tratados de uma melhor forma do que os árabes; 42% revelaram não querer vizinhos árabes a viver no mesmo prédio. O mesmo número respondeu que não quer os seus filhos a frequentar a mesma escola que as crianças árabes.
Mais de metade dos inquiridos (58%) acredita que Israel já tem práticas de apartheid contra os cidadãos árabes, enquanto 31% dizem não ser este o caso.
A sondagem foi conduzida pela empresa de estudos de opinião Dialog, sob encomenda do New Israel Fund, organização que, como lembra o jornal britânico Guardian, é acusada por alguns críticos de direita de ter uma agenda anti-sionista.
As perguntas foram redigidas por activistas pela paz e pelos direitos civis e feitas a 503 entrevistados.
A sondagem distingue os vários grupos na sociedade israelita – os seculares, os observantes, os religiosos, os ultra-ortodoxos e os ex-imigrantes soviéticos.
Os ultra-ortodoxos são aqueles com as posições mais radicais contra os palestinianos, com 83% dos inquiridos deste grupo a mostrarem-se de acordo com a segregação de estradas.
Gideon Levy, do Haaretz assina a notícia e um texto de opinião que comenta os resultados da sondagem. O conhecido jornalista diz que este estudo mostra uma fotografia da sociedade israelita e que a imagem “é muito, muito doente”.
“Já não são só os críticos israelitas e os estrangeiros que o dizem. Agora são os próprios israelitas que se definem abertamente, sem vergonha e sem culpa, como nacionalistas racistas”, escreve Levy.
Para Gideon Levy, ao responderem desta forma, os israelitas estão a afirmar: “Somos racistas, praticamos o apartheid e até queremos viver num estado de apartheid. Sim, isto é Israel”.
Texto do apelo:
É cada vez mais evidente - a não ser para um governo que segue fanaticamente, e sem olhar a meios, o programa da Troika - que este caminho não nos serve. Temos saído repetidamente à rua para exigir que sejamos ouvidos, para mostrar que estamos indignados com tanta insensibilidade social e com tantos jogos políticos que conduzem sempre ao mesmo resultado: mais pobreza, mais desemprego, mais precariedade, mais desigualdade social, mais austeridade, menos futuro! Saímos à rua por
que é nela que mora a última esperança de liberdade quando os governos se tornam cegos, surdos e mudos face às justas exigências de igualdade e justiça social. Saímos à rua porque estes governos apenas se preocupam com a aplicação suicida de políticas pensadas para proteger os mais ricos e os interesses financeiros. Voltaremos a sair à rua em Portugal, em Espanha, na Grécia e em tantos outros lugares pelas mesmas razões essenciais: queremos uma economia virada para as pessoas, uma democracia com direitos para todos e todas sem discriminações e um planeta onde possamos coexistir de forma sustentável e cooperante.
Se o povo quiser, o povo decide, por isso vamos para a rua a 15 de Outubro dizer de forma clara e definitiva que recusamos o retrocesso social imposto, que este não é o caminho e que queremos uma vida digna. Queremos recuperar a nossa responsabilidade sobre o nosso futuro. Governo para a rua já!
Em Portugal, como em Espanha, cerquemos o Parlamento!
Por Noam Chomsky
Não é fácil mudar de pele e tentar ver o mundo de forma diferente daquela que nos é apresentada dia após dia. Mas é útil experimentar. Vejamos alguns exemplos.
Os tambores da guerra soam cada vez mais forte sobre Irão. Imaginem esta situação totalmente inversa:
O Irão está a empreender uma guerra mortífera e destrutiva de «baixo nível» contra Israel com uma grande força de participação. Os seus dirigentes anunciam que as negociações não levam nenhures. Israel recusa-se em assinar o Tratado de não proliferação e permite uma inspecção, tal como o fez o Irão. Israel continua em desafiar o esmagador pedido internacional por uma zona livre de armas nucleares na região. Por todas partes, o Irão goza do apoio do seu protector todo-poderoso.
Portanto, os dirigentes iranianos estão a anunciar a sua intenção de bombardear Israel e proeminentes analistas militares iranianos informam que o ataque pode acontecer antes das eleições nos E.U.·
O Irão pode utilizar a sua potente força aérea e os novos submarinos enviados pela Alemanha, armados com mísseis nucleares e estacionados na costa de Israel. Independentemente da agenda, o Irão está a contar com o seu todo-poderoso apoiante para juntar-se ou até dirigir a agressão. Leon Panetta, secretário da defesa dos E.U., diz que enquanto não favorecemos um tal ataque, o Irão, enquanto país soberano, agirá segundo os seus interesses.
Claro que tudo isto é inimaginável, ainda que esteja a acontecer de facto, mas com uma repartição de papéis inversa. Certo, as analogias nunca são exactas, e estas são injustas para com o Irão.
Tal como o seu protector, Israel recorre à violência tanto quanto lhe apraz. Persiste em construir colónias ilegais em território ocupado, alguns territórios anexados, tudo isto desafiando as leis internacionais e o Conselho de Segurança da ONU desavergonhadamente. Repetidamente, levou a cabo ataques brutais contra o Líbano e as pessoas encarceradas em Gaza, matando dezenas de milhares sem pretexto credível.
Há trinta anos, Israel destruiu um reactor nuclear iraquiano, um acto que foi recentemente louvado, evitando a forte evidencia, mesmo por parte dos serviços de inteligência dos E.U., que o bombardeamento não acabou com o programa de armas nucleares de Saddam Hussein mas que lhe deu início. O bombardeamento do Irão poderia ter o mesmo resultado.
O Irão também levou a cabo agressões – mas durante cerca dos últimos cem anos, foi sob o regime do Xá, apoiado pelos E.U, quando conquistou ilhas árabes no Golfo Pérsico.
O Irão envolveu-se em programas de desenvolvimento nuclear sob o Xá, com o forte apoio oficial de Washington. O governo iraniano é brutal e repressivo, como o são os aliados de Washington na região. O aliado mais importante, a Arábia Saudita, é o mais extremista regime islâmico fundamentalista e gasta fundos enormes para espalhar as suas doutrinas radicais Wahhabistas noutros lugares. As ditaduras do Golfo, igualmente aliadas favorecidas pelos E.U., têm severamente reprimido qualquer esforço popular para se juntar à Primavera Árabe.
O Movimento dos Não Alinhados – os governos da maioria da população mundial – encontram-se agora em Teerão. O grupo tem defendido vigorosamente o direito do Irão em desenvolver o urânio enriquecido e alguns membros, a índia, por exemplo, adere apenas parcialmente e sem convicção ao duro programa de sanções dos E.U.
Os delegados do NAM reconhecem sem dúvidas a ameaça que domina a discussão no ocidente, lucidamente articulado por Gen. Lee Butler, anterior dirigente do Comando Estratégico dos E.U.: «é extremamente perigoso, no caldeirão das animosidades a que chamamos o Médio Oriente,» que uma nação se dote de armas nucleares, «inspirando outras nações a fazer o mesmo».
Butler não se está a referir ao Irão, mas sim a Israel, que é considerado pelos países Árabes e pela Europa como sendo o maior perigo para a paz no Mundo Árabe, sendo que os Estados Unidos se encontram em segundo lugar, enquanto o Irão, apesar de não ser apreciado, está longe de ser temido. O facto é que muitos inquéritos indicam que uma maioria considera que a região seria mais segura se o Irão tivesse armas nucleares para equilibrar as ameaças intuídas.
Se o Irão está de facto a encaminhar-se para ter armas nucleares – o que ainda é desconhecido pelos serviços secretos dos E.U – pode ser porque está a ser “inspirado para fazê-lo” pelas repetidas ameaças feitas pelos E.U. e Israel em violação explícita da Carta das N.U.
Por que razão será que o Irão é visto como a maior ameaça à paz mundial no discurso oficial do Ocidente? A razão primária é reconhecida pelo exército e serviços secretos dos E.U. e seus homólogos israelitas: o Irão poderia dissuadir o recurso ao uso da força pelos Estados Unidos e Israel.
Além de mais, o Irão tem de ser castigado pelo seu «desafio bem-sucedido», que era a acusação de Washington contra Cuba há meio século, e ainda a força orientadora para a agressão dos E.U. contra Cuba que continua apesar da condenação internacional.
Outros acontecimentos apresentados nas primeiras páginas também podem beneficiar de uma perspectiva diferente. Suponhamos que Julian Assange tenha divulgado documentos russos revelando informações importantes que Moscovo quisesse esconder do público e que as circunstancias fossem de outro modo idênticas.
A Suécia não teria dúvidas em perseguir a sua única preocupação anunciada, aceitando a oferta de interrogar Assange em Londres. Declararia que se Assange regressasse à Suécia (tal como aceitou fazer), não seria extraditado para a Rússia, onde as possibilidades de um julgamento justo seriam improváveis.
A Suécia seria honrada por este apoio exemplar. Assange seria louvado por realizar um serviço público – que, naturalmente, não evitaria a necessidade de tomar as acusações contra ele tão seriamente como em todos os casos semelhantes.
Aqui, as notícias proeminentes são as eleições nos E.U. Uma perspectiva adequada foi proporcionada pelo Tribunal Supremo de Justiça dos E.U. Louis Brandeis, que sustentou que «Podemos ter democracia neste país, ou podemos ter a riqueza concentrada nas mãos de uns quantos, mas não podemos ter ambos.»
Guiado por aquela ideia, a cobertura das eleições deveria centrar-se no impacto da riqueza na política, extensivamente analisada no estudo recente intitulado «Affluence and Influence: Economic Inequality and Political Power in América» por Martin Gilens. Este descobriu que a grande maioria é “impotente para configurar a política do governo” quando as suas preferências divergem da dos ricos, que no fundo obtêm o que querem quando lhes interessa.
Vem então uma pequena preciosidade, num recente ranking dos 31 membros da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico - em termos de justiça social - os Estados Unidos encontram-se no 27º lugar, apesar das suas extraordinárias vantagens.
Ou que o tratamento racional dos assuntos tem a tendência para se evaporar durante a campanha eleitoral, por vezes em jeito de comédia.
Para dar um exemplo, Paul Krugman informa que o muito admirado Grande Pensador do Partido Republicano, Paul Ryan, declara que as suas ideias sobre o sistema financeiro derivam de uma personagem de um romance de fantasia – “Atlas Shrugged” – que reclama o uso de moedas de ouro em vez de papel.
Só nos resta tirar ilações de um realmente brilhante escritor, Jonathan Swift. Nas “Viagens de Gulliver”, os seus sábios de Lagado carregam todos os seus bens com eles em pacotes às costas, e portanto podiam utilizá-los como moeda de troca sem os entraves do ouro. Então a economia e a democracia poderiam verdadeiramente florescer – e melhor ainda, a desigualdade diminuiria bruscamente, uma dádiva para o espírito da Justiça Brandeis.
© 2012 Noam Chomsky
Tradução Ana da Palma do original