CMA-J

Colectivo Mumia Abu-Jamal

Setúbal: Polícia reprime manifestação do 1º de Maio

No passado domingo a polícia reprimiu violentamente os manifestantes do 1º de Maio em Setúbal. Numa atitude de clara provocação e violenta repressão, a polícia atacou a manifestação anticapitalista e anti-autoritária, depois de ela ter terminado, e disso resultou muita gente agredida, algunsferidose outros detidos. Muitos manifestantes foramtambém abusivamente identificados pela polícia.Tratou-se de uma actuação completamente inaceitável por parte da polícia e as suas vítimas merecem a nossa total solidariedade.

A repressão poícial em Setúbal tem uma longa história, de que podemos lembrar as primeiras pessoas mortas pela GNR logo após a sua criação (fez esta semana 100 anos), que aconteceram precisamente em Setúbal, a repressão constante ao movimento revolucionário, antes e depois do 25 de Abril, até às recentes e constantes incursões contra os jovens dos bairros pobres da região, com inúmeros incidentes, incluíndo o assassinato do jovem António Pereira (Tony) no Bairro da Bela Vista, morto por um polícia com uma shotgun.

Reproduzimos excertos um relato do Colectivo TerraLivre:

A manifestação concentrou-se por volta das 13:00h no Largo da misericórdia em Setúbal e por volta das 14:00h eram já cerca de 100 os participantes.

Colocaram-se faixas e bandeiras a toda a volta do Largo e ligou-se o sistema de som para se lerem panfletos, comunicados e se ouvir música.

A chuva começou a cair mais ou menos ao mesmo tempo em que chega uma panela de sopa para ser distribuída a toda a gente que estava no largo.

Perto das 15:00 começaram-se a levantar as faixas para compor a manifestação, foi lançado algum fogo de artificio e arranca-se a passo lento pela rua Arronches Junqueiro em direcção ao miradouro das fontainhas.

Durante a permanência no Largo da misericórdia a carrinha da Equipa de Intervenção Rápida da PSP rondou variadíssimas vezes o Largo da Misericórdia sem nunca nele entrar.

Chegada ao miradouro, em frente ao Museu do Trabalho, a manifestação parou para novamente se lerem comunicados, lançar mais fogo de artifício e desceu pela Rua Doutor Vicente José Carvalho circundando o jardim dos Palhais

Neste ponto a manifestação pôde passar pelo túnel do Quebedo já que o trânsito se encontrava aqui cortado devido à manifestação da CGTP convocada para o jardim do outro lado da linha

No outro lado do túnel uma carrinha da EIR da PSP, bem como cerca de 6 elementos da mesma força policial, cortava a passagem na estrada impedindo a manifestação de se juntar à cauda do desfile da CGTP. Esta linha policial, feita especialmente para nos separar da concentração da intersindical e do contacto com pessoas na mesma e na rua, permaneceu numa atitude provocadora durante toda a avenida 5 de Outubro.

Em frente à sede do PCP no edifício Arrábida encontravam-se vários indivíduos com postura agressiva, eventualmente polícias à paisana, eventualmente grupo de ordem do PC.

A manifestação seguiu sob acompanhamento policial até à Avenida 22 de Dezembro e virou então à direita para a Avenida dos Combatentes

Aqui, os elementos policiais deixaram de acompanhar a manifestação e esta seguiu no mesmo tom combativo e passo lento até ao fim da Avenida, virou à esquerda e avançou até à rotunda frente ao largo José Afonso. A ausência da polícia nada alterou no espírito ou actividade da manifestação.

A partir daqui seguiu pela Avenida Luisa Tody até entrar no Bairro da Anunciada pelo largo da Palmeira onde parou para mais uns inócuos fogos de artifício antes de fazer, sob cânticos e frases de ordem, a rua Vasco da Gama até ao largo da Fonte Nova.

Chegados a esse ponto final as faixas foram colocadas no chão e estava novamente a chegar comida para ser distribuída no Largo para quem quisesse. Terminava aí a manifestação.

Passados cerca de 10 minutos, um carro patrulha da PSP aproximou-se de um automóvel que transportava o sistema de som que já havia estado no início da manifestação no Largo da Misericórdia. Os agentes dirigiram-se a alguns indivíduos que estavam junto a esse automóvel exigindo que se diminuísse o volume. O volume foi diminuído. Seguidamente tentaram descobrir alguém que fosse responsável pela manifestação ou seu porta-voz, tentativa esta que, devido à natureza da convocatória, seria à partida impossível.
Os agentes pediram então a um indivíduo que se identificasse passando instantaneamente para a tentativa de detenção. Esta detenção, completamente aleatória e injustificada, foi questionada por manifestantes nesse local e consequentemente impedida.

Na mesma altura chega uma carrinha de intervenção vinda da Rua Vasco da Game de onde saem vários agentes armados com shotguns que, sem qualquer ordem de dispersão, iniciaram prontamente disparos de balas de borracha em todas as direcções. Literalmente.
Esta actuação, acompanhada da utilização de gás lacrimogéneo e bastões fez com que logo nesse local dezenas de pessoas fossem feridas com maior ou menor gravidade. Muitas conseguiram-se defender e manter a polícia à distância. Alguns dos residentes e comerciantes também se insurgiram contra a violência policial o que resultou, na maioria das situações, na agressão gratuita da polícia.

Os manifestantes dispersaram pelas ruas da Fonte Nova e a polícia reorganizou-se em torno do Bairro esperando que estes de lá saíssem. Hesitaram muitas vezes e tiveram medo que o conflicto se generalizasse visto muitos dos habitantes estarem visivelmente enojados com a situação totalmente criada pelas forças policiais. A polícia inicia a partir daqui uma caça com motas , carros, carrinhas e jipes pelo bairro do Montalvão e centro da cidade, realizando uma nova carga no túnel da Rua Frei António das Chagas e nas Pracetas do Montalvão onde foram novamente disparadas balas de borracha indiscriminadamente contra dezenas de pessoas.

Depois foi preciso dar assistência aos feridos, encontrar os desaparecidos, cancelar o trabalho do dia seguinte ou ir trabalhar todo amachucado, reunir relatos e cruzar os dados.

No total e contrariamente ao que a polícia e os jornais afirmam, registou-se:

- Com toda a certeza 12 detenções para efeitos de identificação, eventualmente mais.

- Espancamentos aos detidos durante e depois do transporte para a esquadra.

- Um espancamento realizado por meia dúzia de agentes contra um isolado e tombado manifestante aos gritos de «atira lá pedras agora»… A já famosa cobardia da polícia.

- 4 a 5 tiros de fogo real.

- Um número impossível de determinar mas em todos os casos elevado de disparos de «balas de borracha» ( houve cartuchos recolhidos pelos manifestantes, pelo cordão da polícia para recolher cartuchos e mais tarde ainda cartuchos recolhidos pelos habitantes)

- As ordens policiais mandadas para o Hospital no sentido de identificar e denunciar pessoas que entrassem feridas, nomeadamente aquelas «com ferimentos de bala»

- Cerca de 30 feridos sendo que a maioria foi tratada por vizinhos e integrantes da manifestação

- A entrada no hospital de dois polícias com dores nas costas e ombro, mas sem quaisquer ferimentos

- Outras tantas histórias não registadas de abusos e violência, tal como acontece todos os dias de Norte a Sul do país pelas mãos criminosas da polícia.

3 de Maio 2011

Terra Livre

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