Comunicado do CPPC
"O Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC) denuncia mais uma intervenção militar da União Europeia na em África, com o anúncio da disposição de enviar centenas de soldados para a República Centro-Africana, onde já se encontram a intervir soldados franceses. Ao anunciar esta intenção, a União Europeia está fundamentalmente a branquear a intervenção francesa e os seus objectivos neocoloniais. Recorde-se que a França, onde se verifica uma profunda crise económica e social, tem vindo a assumir um crescente intervencionismo e agressividade militar na sua política externa, designadamente no continente africano, como na Costa do Marfim, na Líbia ou no Mali.
No fundo, a União Europeia assume-se como pilar europeu da NATO e concretizando o respectivo conceito estratégico.
O CPPC sublinha que a UE não tem autoridade para decidir sobre o envio de tropas para a Republica Centro Africana, sendo tal uma competência da ONU, nomeadamente tendo em conta a posição da União Africana (anterior Organização de Unidade Africana).
A situação que se vive na República Centro Africana, de aparentes conflitos religiosos, não é alheia aos interesses económicos de exploração de recursos naturais deste país e desta região africana.
A solução do conflito na República Centro-Africana passará necessariamente pelo fim da ingerência daqueles que apenas visam a rapina dos seus recursos naturais, promovendo e exacerbando as contradições e problemas existentes para deles tirar partido em seu proveito e justificar a sua intervenção.
O Conselho Português para a Paz e Cooperação não só denuncia a decisão da União Europeia, como exige do governo português o respeito pelo ponto 1 do artigo 7º da Constituição da República Portuguesa, designadamente quando se afirma Portugal rege-se nas relações internacionais pelos princípios da independência nacional, do respeito dos direitos do homem, dos direitos dos povos, da igualdade entre os Estados, da solução pacífica dos conflitos internacionais, da não ingerência nos assuntos internos dos outros Estados e da cooperação com todos os outros povos para a emancipação e progresso da humanidade."
"O Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC) denuncia mais uma intervenção militar da União Europeia na em África, com o anúncio da disposição de enviar centenas de soldados para a República Centro-Africana, onde já se encontram a intervir soldados franceses. Ao anunciar esta intenção, a União Europeia está fundamentalmente a branquear a intervenção francesa e os seus objectivos neocoloniais. Recorde-se que a França, onde se verifica uma profunda crise económica e social, tem vindo a assumir um crescente intervencionismo e agressividade militar na sua política externa, designadamente no continente africano, como na Costa do Marfim, na Líbia ou no Mali.
No fundo, a União Europeia assume-se como pilar europeu da NATO e concretizando o respectivo conceito estratégico.
O CPPC sublinha que a UE não tem autoridade para decidir sobre o envio de tropas para a Republica Centro Africana, sendo tal uma competência da ONU, nomeadamente tendo em conta a posição da União Africana (anterior Organização de Unidade Africana).
A situação que se vive na República Centro Africana, de aparentes conflitos religiosos, não é alheia aos interesses económicos de exploração de recursos naturais deste país e desta região africana.
A solução do conflito na República Centro-Africana passará necessariamente pelo fim da ingerência daqueles que apenas visam a rapina dos seus recursos naturais, promovendo e exacerbando as contradições e problemas existentes para deles tirar partido em seu proveito e justificar a sua intervenção.
O Conselho Português para a Paz e Cooperação não só denuncia a decisão da União Europeia, como exige do governo português o respeito pelo ponto 1 do artigo 7º da Constituição da República Portuguesa, designadamente quando se afirma Portugal rege-se nas relações internacionais pelos princípios da independência nacional, do respeito dos direitos do homem, dos direitos dos povos, da igualdade entre os Estados, da solução pacífica dos conflitos internacionais, da não ingerência nos assuntos internos dos outros Estados e da cooperação com todos os outros povos para a emancipação e progresso da humanidade."
Através da ACED fazemos eco de mais injustiças que pairam nas prisões .
"Negligência de socorro em Vale de Judeus
"Negligência de socorro em Vale de Judeus
Na noite de dia 18 Jan, o recluso Tiago Filipe Teixeira Félix
cortou-se com uma lâmina no braço, automutilando-se. Esperou uma hora pela
chegada de guardas para lhe prestarem assistência. O sangramento, claro, foi
importante e perigoso para a sua vida. Este episódio é reflexo da tensão
existente e contribui para a aumentar. Reflexo da incapacidade do sistema de
assegurar respeito pela condição dos presos, seja por falta de recursos, por
falta de vontade, espírito punitivo ou tudo isso junto."
"Fome em Vale de Judeus (continuação)
Chegou-nos a informação que o chefe de guardas teria sido
afastado depois de uma inspecção da ASEA à cozinha daquele estabelecimento.
Recordamos que há mais de um mês começaram chegar queixas de reclusos
castigados por reclamar da alimentação. Consta agora que o afastamento do chefe
se deve ao facto de estar a tirar proveito pessoal da autorização que daria à
escassez de comida no estabelecimento.
A confirmar-se esta informação, há todo um enquadramento
novo tanto quanto para o nível de fome por que se destacou Vale de Judeus
doutras cadeias onde os alimentos parecem também não ser abundantes e quanto
à estratégia de repressão da forma de protestar dos reclusos, levados para as
celas disciplinares.
A ACED pede a quem de direito que esclareça os factos que já
foram apurados a respeito deste caso e que informe dos procedimentos que venham
a ter lugar na sequência do que for apurado. "
"Telemóvel em Alcoentre (continuação da perseguição)
Luís Filipe Marques da Silva está preso em Alcoentre. É
analfabeto. Pai de quatro filhos. E inquieto com a sorte da família.
Pede para ser protegido contra as ameaças verbais e físicas
de guardas, para poder continuar a trabalhar e a estudar conforme fazia há
poucos meses atrás e para não ser perseguido, até que cumpra o que lhe resta da
pena.
Percebe o que se passa à sua volta. Quando lhe vieram dizer
que tinham encontrado um telemóvel, localizada numa cela com outros presos,
percebeu logo o que se poderia passar. Por isso podemos escrever, então, a 23 de
Outubro, na sequência de outras mensagens sobre o caso:
Tudo se está a passar conforme previsto e antecipado nos
ofícios anteriores. A pretexto da presença de um telemóvel de Nuno Santos,
companheiro de cela de Luís Silva que acaba de sair em fim de pena, o próprio
ficará a cumprir oito dias de castigo. Nem a audição de Nuno Santos no processo
de averiguações (que terá confirmado o telemóvel ser seu) impediu a perseguição
de prosseguir.
Efectivamente sabe hoje que além do companheiro de cela
indicado, outro igualmente envolvido no processo saiu aos 2/3 da pena. Imagina o
Luís que seja o facto de não aceitar a injustiça que o tem levado a esta
situação. Porque não vê outra razão. Mas não se consegue calar. Isso mesmo
parece ter constatado o TEP, curiosamente. Diz um trecho que nos chegou da
inspecção, de autoria do TEP:
Consultou a
memória do referido aparelho e constatou que no mesmo se encontravam gravadas
fotografias do mesmo (e de outras pessoas não identificadas e também uma
fotografia do braço de alguém que não conseguiu identificar), o que indicia que
era utilizado pelo impugnante.
Não é preciso ser proprietário do objeto proibido para
preencher a referida previsão legal, bastando ser mero detentor, seja por se
utilizar o mesmo, por se estar a fazer um favor a alguém ou por qualquer outra
motivação. O que importa é que se guarde ou detenha (no sentido de ter um poder
de facto sobre o objeto) o objeto proibido, sendo a motivação irrelevante. Em
suma, o recluso Luís Filipe Marques da Silva praticou a infração disciplinar em
que se alicerçou a decisão impugnada
A natureza da infração em causa, o grau de culpa do
recluso e a personalidade manifestada no facto de posteriormente à apreensão
ter passado a dizer, contra todas as evidências, que não tinha o telemóvel
dentro das cuecas, nada há a criticar tanto no que concerne à escolha da medida
como em termos de fixação de respetivo quantum, que é o habitual para situações
idênticas.
Não nos cabe aqui discutir se a imagem do recluso
na memória do telemóvel prova que ele o usou ou se com ele fez favores (de
posar para a fotografia?). Basta-nos reconhecer que não se tem calado, nem face
ao tribunal, a reclamar a sua inocência.
Na verdade parece ser certo que o telemóvel em
causa terá sido entregue (com outro telemóvel) ao seu dono, na ocasião em que
saiu da cadeia. E mais certo ainda que a revolta de Luís não o deixa sossegado,
ao ponto de estar a ser ameaçado de pancada por um grupo de cinco guardas que
ontem procurou entrar na sua cela depois do fecho. Apenas o facto de se ter
barricado evitou o desfecho, que evidentemente teme poder vir a acontecer a
qualquer momento e para o que pede protecção.
Os insultos ao recluso são de tal maneira vulgares
que a própria família já os testemunhou. A partir do episódio do telemóvel, as
quatro crianças seus filhos são revistados com desnudamento e apalpação de cada
visita. Quando a família entrega as suas coisas e diz que é para o 39 (em
Alcoentre, apesar da proibição tudo como antes) imediatamente vozes intimidatórias
se levantam e um dia obrigaram a tirar uns gramas de carne que passaria do kilo
permito. Os olhares de intimidação para a família parecem armas de arremesso.
Na verdade, o chefe de guardas já terá explicado ao
próprio recluso que há uma ordem para lhe fazerem a vida negra e que nem os 5/6
(o fim da pena) deve tomar por assegurados. Previsão que vamos ver se se
concretiza ou não. Porque se nas vésperas de ir ao juiz para liberdade
condicional (que foi concedida ao seu companheiro de cela) lhe aconteceu ser
plantado um telemóvel na cama (a explicação que Luis encontra é o facto de a
única tomada de corrente disponível estar junto da sua cama), e se depois
assistimos a todo o aparato de que acima damos uma ideia, não está descartada a
possibilidade de virmos a ouvir do recluso a queixa de alguma acção contra si
que o remeta para uma prisão preventiva, por exemplo (estamos a lembrarmo-nos
de casos semelhantes que nos foram contados de perseguições que prolongam no
tempo).
O Luís quer trabalhar ou ir à escola, como fazia
antes de ser castigado e enviado para o interior da prisão, pela ocupação e
para mostrar que está disponível para integrar a sociedade. Essa possibilidade
está a ser-lhe recusada. Enquanto noutros casos recentes sim, os telemóveis
continuam a circular em Alcoentre passado o tempo do castigo os reclusos
voltaram ao RAI. Mas esse não foi o caso do Luís.
A irmã do Luís, preocupada com a situação, procurou
falar com a educadora, Drª Sandra, e conseguiu. Explicou-lhe esta que o chama
todas as semanas mas este nunca está na ala e por isso não o tem visto. É
natural que esta resposta seja incompreensível para uma pessoa de sensibilidade
normal que procura apoios para uma situação difícil. Ao pedir mais esclarecimentos
e ao pedir para ajudar o irmão, ouviu a resposta de que ela (a educadora) é que
sabia o que devia fazer. Quando informou a educadora de que o irmão só tinha
acesso a água fria, esta ter-lhe-á perguntado que se queria que fosse dar banho
ao irmão.
Actualmente Luís está na Ala B, de onde estão a ser
conduzidos pessoas com problemas de adição com drogas. Estão a ser deslocados
para outra ala os presos que anteriormente ali estavam. Luís teme não ir chegar
a sua vez de ser transferido para um espaço onde não seja obrigado a
confrontar-se com essa doença. "
"Discriminação em Coimbra (resposta à
conclusão obtida)
conclusão obtida)
A ACED
é uma organização não governamental que há mais de 16 anos cumpre um serviço
público que as leis da AR parecem querer estabelecer mas o sistema prisional
não é capaz de realizar. A ACED aceita denúncias, queixa e lamentos, pedidos de
ajuda, declarações de revolta e apelos aos sentimentos humanitários que
deveriam poder ser canalizados para as direcções das cadeias, para as
diferentes agências com competências de auditoria e inspecção dos serviços
prisionais, para o ministério da tutela. A ACED só se mantém activa porque
esses serviços ainda que aparentemente disponíveis simplesmente não cumprem
as funções que poderiam cumprir, em particular a de levar a sério as
informações e comunicações que lhes chegam dos presos.
O caso
presente é apenas um exemplo disso. Que só é mais evidente porque a rotina de
desvalorizar e desqualificar não apenas as comunicações das pessoas presas mas
as próprias pessoas presas, em si, se tornou tão banal Hannah Arendt, a
propósito de outro assunto chamou-lhe banalidade do mal que parece legítimo
discriminá-las.
A lei
diz que um preso não pode sofrer castigos disciplinares com uma duração acima
de tantos dias. Mas as instituições portuguesas descobrem que tantas vezes
esses tantos dias não é nenhuma violação da lei. E para que não haja dúvidas
sobre que a violação da lei não é violação da lei, põem a vítima a papaguear
aquilo que não sendo um testemunho válido em lado nenhum onde haja decência
é tomado como a comprovação da alegada conspiração da ACED contra o Estado
português e as suas prisões (assunto tratado noutro lugar com algum detalhe e
que aqui não tratamos).
A ACED
soube que Oliveira esteve 45 dias de castigo. Informou as autoridades. Estas
inspeccionaram e concluíram que sim, tinha estado 45 dias de castigo. Mas não é
ilegal porque houve uns dias de intervalo, para salvaguardar as aparências, e
isso é quanto bastaria. Agora a maior dificuldade presumimos, com base na
experiência que temos de ler estas respostas e estes relatórios é dar razão a
uma queixa. É que a queixa refere-se à legitimidade de usar esse subterfúgio de
ter uma pessoa em situação de castigo por um período superior ao tempo
legalmente permitido, recorrendo à interrupção do castigo em tempo útil e
recomeçando a contagem do tempo imediatamente a seguir. A essa questão, à
questão que nos parece ter sido posta, nenhuma resposta foi dada. A resposta informa
que o recluso declarou não ter sido ele o autor da queixa, ao contrário do que
consta na queixa.
Isto é,
podemos presumir que as entidades tutelares e inspectivas aceitam que os
serviços prisionais podem desrespeitar o espírito da lei desde que disponham de
uma qualquer forma de justificar escapar-lhe, com base na lei. O que mais lhes
interessa saber é o circuito de informação utilizado pela ACED para saber o que
se passou.
De
outro modo porque se dariam os inspectores ao trabalho de trazer à liça
informação como aquela que carrearam? Que interessa saber quem canalizou a
queixa para a ACED, se a vítima, um prisioneiro ou um guarda? Que interessa o
pedido que o preso tenha feito para cumprir as penas todas de seguida, se só
agora sabemos disso e isso não ficou registado em lado nenhum suficientemente
credível para que seja impossível pensar que o interrogatório a que foi sujeito
no âmbito da inspecção não foi mais um acto de revitimização do recluso?
Em
resumo: a interpretação que a inspecção fez da queixa canalizada pela ACED não
corresponde ao problema em causa, a saber, o abuso de poder praticado à sombra
da interpretação formalística das leis, bastamente denunciado como prática
corrente no sistema judicial em Portugal, com desprezo substantivo do sentido
útil da legislação. Mas corresponde à inspecção do texto da ACED no sentido de
identificar a fonte identificada no texto e de a levar a dizer o que a
inspecção quer que se diga. Imaginando que descredibiliza a ACED assim.
A
inspecção inspecciona os queixosos em vez de inspeccionar os serviços?
Curiosamente é isso que ocorre também nos tribunais a que temos sido
encaminhados, aqui na associação por causa do trabalho que desenvolvemos.
Há uma
conformidade e é com essa que urge romper entre as práticas carcerárias e
as práticas inspectivas no sentido de demonizar os presos e a ACED, como
inventores de problemas, e santificar as autoridades carcerárias como
respeitadores das leis e vítimas das liberdades de contestação oferecidas pelos
direitos de livre expressão. Há um incómodo, apenas por vezes expresso, perante
o facto de haver uma associação que cumpre o trabalho que o Estado poderia
muito bem cumprir receber e tratar com seriedade as queixas dos presos, sem
represálias nem intimidações mas prefere não o fazer. Por isso existe a ACED,
e mais ACEDs existiriam não fosse o clima intimidatório que mesmo fora das
prisões se faz sentir, nomeadamente a nível dos próprios tribunais criminais.
Ora,
aqui chegados devemos rever a matéria. Devemos afirmar ser nossa experiência,
na associação, receber queixas que não podemos encaminhar porque as pessoas em
causa ficam em risco de não serem suficientemente fortes para resistirem às
intimidações. Como temos experiência de pessoas que resistem durante meses a
queixar-se para evitar represálias e só o fazem em desespero de causa. Não
temos dúvidas quem pode tê-las? de existir um clima intimidatório nas
prisões e em volta delas.
Sendo
assim, que sentido faz um inspector (ou uma senhora inspectora) dirigir-se a um
recluso sobre o qual foram aplicados 3 castigos consecutivos e perguntar se
está de acordo com isso? E que sentido faz perguntar se conhece a ACED? Que
resposta poderia alguém obter nessas circunstâncias? (Admitimos não estar a
citar correctamente as perguntas efectuadas, por não termos tido acesso a elas.
Mas as perguntas correspondem às respostas obtidas e referidas no relatório.
Pelo que se não foi este o texto terá sido um texto equivalente. E falta saber
a linguagem corporal utilizada).
Insistimos
neste ponto: muitas das queixas que canalizamos para as autoridades não merecem
apenas uma breve atenção de circunstância nem o desprezo que se costuma
atribuir a quem não gostamos. O Estado tem obrigação de tratar todos os
cidadãos, incluindo os presos, por igual e de acordo com os direitos humanos e
as leis em vigor. Esperar que um dia seja capaz de o fazer é pedir demais?"
Mobilização em apoio aos presos da organização separatista basca foi feita após uma decisão judicial .
Multidão tomou ruas de Bilbao na noite de ontemRafa Rivas/AFP
Mais de 100 mil manifestantes marcharam, na noite de sábado, pelas ruas de Bilbao, no País Basco, num desafio lançado contra Madri depois da proibição pela justiça de uma mobilização em apoio aos presos da organização separatista basca , ETA.
Apesar de terem decidido realizar uma marcha silenciosa, os manifestantes gritavam palavras de ordem, como "Presos bascos, para casa!", enquanto familiares destes eram aplaudidos na sua passagem, emocionados, levando lenços brancos amarrados no pescoço.
Sob o lema "Direitos humanos, acordo, paz", os nacionalistas do PNV se uniram nas ruas aos separatistas, apesar de suas divergências, em resposta à decisão da Audiência Nacional de proibir uma manifestação organizada por outro coletivo a favor dos presos da ETA. Desta forma, o PNV uniu-se pela primeira vez desde 1999 a um protesto dos separatistas.
Esta resposta comum de duas correntes políticas que representam mais da metade do eleitorado do País Basco espanhol ocorre após a proibição de uma manifestação contra a "dispersão" dos militantes separatistas presos.
"Diante desta proibição que supõe também uma agressão à liberdade de expressão, partidos políticos e sindicatos que representam a maioria política deste país decidiram que era preciso convocar esta manifestação em primeiro lugar para defender este direito à liberdade de expressão", declarou Pernando Barrena, porta-voz do partido separatista de esquerda Sortu.
O porta-voz do governo regional, Josu Erkoreka, tinha considerado "muito grave e incompreensível para o povo basco" a decisão do magistrado que proibiu o ato.
Dias antes da marcha deste sábado, o juiz da Audiência Nacional (principal instância penal espanhola), Eloy Velasco, tinha "proibido" outra manifestação por considerar que o grupo de apoio aos presos, Herrira, desmantelado nas operação policial de 30 de Setembro do ano passado e cujas atividades foram suspensas durante dois anos pela justiça espanhola, estaria por trás do protesto.
A proibição judicial levou vários partidos bascos, críticos a esta decisão, a convocar outra mobilização, com o lema "Direitos humanos, acordo, paz".
A aproximação dos presos militantes da ETA ao País Basco, atualmente uns 520 espalhados em prisões de toda a França e Espanha, constitui uma das reivindicações históricas da organização separatista e da esquerda separatista basca. Após o abandono da luta armada, em 20 de outubro de 2011, este tema, muito delicado, revelou-se chave na oposição entre a ETA e o governo central, em Madri.
"Impuseram-nos uma dupla pena", lamentava Itziar Goienetxia, uma mulher de 52 anos, cujo marido está preso há 11 anos perto de Cádiz, na Andaluzia (sul), cidade portuária oposta ao País Basco na geografia espanhola. "Eu moro em Pasajes, perto de San Sebastián", contava a mulher, que se deslocou para Bilbao para participar do protesto. "A cada quinze dias, tenho que percorrer 1,2 mil quilômetros para ir vê-lo e o mesmo caminho para voltar. Tudo isso para passar 40 minutos atrás de um vidro e depois 1,5h frente a frente com ele", contou."
Foi um dos pioneiros da luta contra a segregação racial. Em 1960, ele e outros três estudantes sentaram-se num snack-bar reservado a brancos em Greensboro, na Carolina do Norte, num protesto que se espalhou ao país.
“Se não consegues encontrar alguma coisa pela qual estás disposto a perder a vida, então deves perguntar-te porque estás cá”. Franklin McCain tinha apenas 19 anos mas talvez esta convicção estivesse já firme na sua cabeça quando, a 1 de Fevereiro de 1960, entrou nos armazéns da Woolworth em Greensboro, na Carolina do Norte, e se sentou com três colegas da universidade ao balcão de um snack-bar reservado a brancos. Pediram café e donuts e, quando recusaram servi-los ficaram ali sentados até a loja fechar. Voltaram no dia a seguir e em todos os seguintes – o pequeno grupo transformou-se numa multidão, que inspirou outras e ajudou a incendiar a luta pela igualdade entre brancos e negros na América dos anos 1960.
McCain morreu quinta-feira, aos 73 anos, de complicações pulmonares e os obituários que a imprensa lhe dedicou foram elegias da ousadia juvenil dos Quatro de Greensboro (como ficaram conhecidos), transformada em marco dos protestos contra a segregação dos negros. “McCain e os seus três colegas foram heróis à moda antiga, soldados no puro sentido da palavra: fartos da sua situação, incapazes de a tolerar por mais tempo, temendo os custos de se manterem inactivos por mais tempo, ergueram-se e foram à luta”, escreveu a revista The Atlantic.
Não foram os primeiros a protestar – de forma pacífica, sem provocações mas sem transigir – contra os estabelecimentos que tratavam de forma diferente os clientes conforme a sua raça. Mas até então, nenhuma outra iniciativa atraíra tanto a atenção.
Numa das várias entrevistas que deu em 2010, no 50.º aniversário do seu sit-in, McCain explicou ao Charlotte Observer, o que levou os quatro caloiros da Universidade de Agricultura e Tecnologia da Carolina do Norte, uma escola só para negros, a passar à acção. Os pais e os avós tinham-lhes ensinado que, se cumprissem as leis e trabalhassem no duro, seriam bem-sucedidos: “Eu sentia-me parte de uma grande mentira. Todos nos sentíamos assim.” Depois de meses a discutir as injustiças da segregação, decidiram que era altura de fazer qualquer coisa e, na noite de 31 de Janeiro de 1960, escolheram o alvo: a cadeia Woolworth que, nos estados do sul, impunha a segregação aos seus clientes.
Na tarde do dia seguinte, entraram na loja de Greensboro e, depois de comprarem material escolar e pedirem a factura (para provar que tinham feito despesas), sentaram-se em quatro bancos altos do snack-bar reservado a brancos. “Estávamos assustados”, contou David Richmond, um dos quatro, que morreu em 1990. “A adrenalina corria-me nas veias, mas se alguém ao balcão tivesse gritado ‘buhh!’ eu teria fugido a correr”.
Demasiado zangado para sentir medo
As recordações de McCain são diferentes. “Não tinha medo porque estava demasiado zangado para sentir medo. Sabia que se tivéssemos sorte iríamos passar muito tempo na prisão. Caso contrário, podíamos regressar ao campus num caixão de pinho”. Desafiar a segregação que fazia lei nos estados do Sul era arriscar a prisão e os espancamentos eram uma rotina. Mas McCain diz que, “15 segundos” depois de se sentar sentiu algo inédito: “Foi uma sensação de liberdade, de dignidade recuperada. Senti-me quase invencível”, contou, em 2010, à rádio pública NPR.
As recordações de McCain são diferentes. “Não tinha medo porque estava demasiado zangado para sentir medo. Sabia que se tivéssemos sorte iríamos passar muito tempo na prisão. Caso contrário, podíamos regressar ao campus num caixão de pinho”. Desafiar a segregação que fazia lei nos estados do Sul era arriscar a prisão e os espancamentos eram uma rotina. Mas McCain diz que, “15 segundos” depois de se sentar sentiu algo inédito: “Foi uma sensação de liberdade, de dignidade recuperada. Senti-me quase invencível”, contou, em 2010, à rádio pública NPR.
Não foram espancados, nem presos. Mas o empregado recusou servi-los, um polícia disse-lhes para saírem dali, tocando de forma ameaçadora no cassetete, e um empregado negro acusou-os de serem agitadores. Mantiveram-se sentados e ouviram insultos de clientes brancos, mas também palavras de incentivo. “Uma senhora de idade que estava a observar a cena aproximou-se e sussurrou ‘rapazes, tenho tanto orgulho em vocês’ e eu aprendi que nunca se deve julgar alguém antes de termos tido oportunidade de falar com essa pessoa”.
A loja fechou mais cedo e os quatro regressaram a casa, esfomeados mas determinados. Na manhã seguinte regressaram ao mesmo lugar, seguidos por 25 colegas e alguns jornalistas. No final da semana, eram já 300 e o protesto alastrava – primeiro a outras cidades da Carolina do Norte, depois a outros estados (há quem fale em 55 cidades, há quem conte mais de 250). Nem todos foram bem-sucedidos, mas a acumulação de protestos, escreveu o New York Times, “contribui para o impulso que levou à aprovação da Civil Rights Act de 1964”, que proibiu a segregação nos locais públicos a nível federal.
Em Greensboro, a luta dera frutos muito antes. A 25 de Julho de 1960, Woolworth passou a atender todos os clientes por igual. Em 2010, a loja deu lugar ao Museu dos Direitos Cívicos e o balcão foi levado para o Museu Smithsonian de História Americana, em Washington.
Mas para McCain, o sit-in foi apenas o começo de uma vida de activismo pelos direitos cívicos. Aos 68 anos, numa entrevista à jornalista Mary C. Curtis, admitia sentir-se feliz com a nova face do país – a América que elegeu Barack Obama, um negro, para a presidência –, mas desafiava as novas gerações a não baixarem os braços. “A todo o momento sou recordado que em qualquer luta pela mudança são precisas apenas algumas pessoas para fazer a diferença, às vezes apenas uma”.
Por Ana Fonseca Pereira - Público
"Dia 7 de Janeiro 5 reclusos foram convidados a fazer o teste de consumo de haxixe. Dois acusaram presença da substância procurada. Os três a quem o teste deu negativo (Nelson n. 164, Hélder n.42 e Hugo n.32), foram visitados antes da abertura das celas de dia 8 para fazerem contra análise. O que provocou mal-estar. Recusaram-se a repetir o teste e pediram para falar com o Director, para exporem as suas razões. 4ª feira foi dia de visita e aproveitaram para pedir aos familiares para falar com o chefe. De onde não resultou nada, pois os familiares não sabiam o que se tinha passado e o chefe continuou a não aceder a ouvir os reclusos.
A história circulava e na hora de almoço os presos manifestaram solidariedade com os três que estavam a pedir para ser ouvidos. Concluíram que não aceitariam comer se não houvesse a garantia de o Chefe receber os reclusos para os ouvir. Como a garantia não chegou, não almoçaram e foram conduzidos às celas.
Na sequência deste protesto os guardas foram buscar às celas e levaram para isolamento os três reclusos acima referidos (que não tiveram nenhuma iniciativa no refeitório, mas estavam no centro do conflito) e mais Marco n. 98, Carlos e outros dois presos, possivelmente escolhidos para exemplo para os outros reclusos. Um destes dois últimos, Luis n. 93, na circunstância de se sentir perseguido reclamou acesso à comunicação com a família e o advogado. Ficou sem acesso ao pátio desde as 13:00 de dia 9, depois de espancado e de lhe terem sido retirados os seus pertences (televisão, roupa e produtos de higiene). Encontra-se actualmente em greve de fome. Nenhum dos presos citados tem informação de que castigo lhes está a ser aplicado, de que são acusados e nenhum se atreve a perguntar seja o que for, perante o exemplo do tratamento dado ao Luis.
Certamente o conflito está longe de estar sanado. É natural que venhamos a ouvir sobre futuros desenvolvimentos. Talvez a versão oficial do caso possa a vir pôr cobro à tensão existente. Quanto à regularidade dos procedimentos, cabe a quem de direito averiguar."
"O fundo de pensões PGGM - o maior da Holanda e um dos maiores do mundo - anunciou a decisão de retirar de cinco bancos israelitas investimentos na ordem de algumas dezenas de milhões de euros. A decisão foi explicada pelo envolvimento dos bancos nas actividades dos colonatos.
Segundo notícia hoje publicada no diário israelita Haaretz, o PGGM tinha contactado os cinco bancos fazendo-lhes notar que a sua ligação aos colonatos criava um problema à luz do direito internacional. O PGGM invocou, concretamente, o veredicto de 2004 do Tribunal da Haia segundo o qual são ilegais os colonatos estabelecidos em território palestiniano ocupado. Invocou também o Artigo 49º da Quarta Convenção de Genebra, segundo o qual "a potência ocupante não pode deportar ou transferir partes da sua própria população civil para os territórios ocupados".Bancos boicotados pelo PGGM
Bank Hapoalim
Bank Leumi
Bank Mizrahi-Tefahot
1st International Bank of Israel
Israel Discount BankA isto responderam os bancos que a lei israelita não lhes permitiria discriminar os colonatos e que, de qualquer modo, a realidade económica impede a recusa de créditos aos ou a aceitação de depósitos dos colonatos.
Perante esta resposta, o PGGM anunciou a decisão de iniciar, a partir de 1 de janeiro de 2014 o desinvestimento nesses cinco bancos. Explicou a decisão com a estratégia de "responsabilidade social" que o grupo delineara recentemente para todos os seus investimentos.
O anunciado boicote aos cinco bancos, no valor de algums dezenas de milhões de euros, é visto em Israel como um golpe de dimensões relativamente modestas - à escala do país, e à escala dos 150.000 milhões de euros que o PGGM gere a nível mundial.
Já a dimensão política do boicote incomoda fortemente o Governo israelita. Segundo o Haaretz, juntam-se no anúncio do PGGM várias circunstâncias preocupantes. Por um lado, ele segue-se a uma série de outros boicotes holandeses. Um deles veio da companhia das águas holandesa, Vitens, contra companhia das águas israelita, Mekorot. Outro veio de uma empresa que cancelou o contrato com outra com a companhia de águas de Jerusalém, Hagihon, para construir uma estação de tratamento de águas residuais em território ocupado.
Mekorot, parceira da EPAL
Boicotada na Holanda pela Vitens, a Mekorot é parceira da homóloga de ambas em Portugal, a EPAL, num contrato que alegadamente terá como objecto a "segurança hídrica"Por outro lado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros israelita encara com preocupação a série de boicotes holandeses, que dificilmente poderiam coincidir espntaneamente no tempo. Na raiz do movimento boicotista holandês, considera-se que só pode estar uma atitude favorecida ou influenciada politicamente, a partir do próprio Governo da Haia.
Enfim, considera-se em Israel, segundo o mesmo Haaretz, que é especialmente séria a decisão do PGGM, porque ela não aponta directamente aos colonatos, e sim a cinco entidades que têm relações com estes. Cria-se assim o precedente de penalizar também os vínculos directos ou indirectos com os colonatos, o que equivale a uma considerável ampliação das actividades sancionadas."
Bank Hapoalim
Bank Leumi
Bank Mizrahi-Tefahot
1st International Bank of Israel
Israel Discount BankA isto responderam os bancos que a lei israelita não lhes permitiria discriminar os colonatos e que, de qualquer modo, a realidade económica impede a recusa de créditos aos ou a aceitação de depósitos dos colonatos.
Perante esta resposta, o PGGM anunciou a decisão de iniciar, a partir de 1 de janeiro de 2014 o desinvestimento nesses cinco bancos. Explicou a decisão com a estratégia de "responsabilidade social" que o grupo delineara recentemente para todos os seus investimentos.
O anunciado boicote aos cinco bancos, no valor de algums dezenas de milhões de euros, é visto em Israel como um golpe de dimensões relativamente modestas - à escala do país, e à escala dos 150.000 milhões de euros que o PGGM gere a nível mundial.
Já a dimensão política do boicote incomoda fortemente o Governo israelita. Segundo o Haaretz, juntam-se no anúncio do PGGM várias circunstâncias preocupantes. Por um lado, ele segue-se a uma série de outros boicotes holandeses. Um deles veio da companhia das águas holandesa, Vitens, contra companhia das águas israelita, Mekorot. Outro veio de uma empresa que cancelou o contrato com outra com a companhia de águas de Jerusalém, Hagihon, para construir uma estação de tratamento de águas residuais em território ocupado.
Mekorot, parceira da EPAL
Boicotada na Holanda pela Vitens, a Mekorot é parceira da homóloga de ambas em Portugal, a EPAL, num contrato que alegadamente terá como objecto a "segurança hídrica"Por outro lado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros israelita encara com preocupação a série de boicotes holandeses, que dificilmente poderiam coincidir espntaneamente no tempo. Na raiz do movimento boicotista holandês, considera-se que só pode estar uma atitude favorecida ou influenciada politicamente, a partir do próprio Governo da Haia.
Enfim, considera-se em Israel, segundo o mesmo Haaretz, que é especialmente séria a decisão do PGGM, porque ela não aponta directamente aos colonatos, e sim a cinco entidades que têm relações com estes. Cria-se assim o precedente de penalizar também os vínculos directos ou indirectos com os colonatos, o que equivale a uma considerável ampliação das actividades sancionadas."
Blog RTP
Notícias da prisão de Vale de Judeus via ACED
Fotos da alimentação mais abaixo, castigos disciplinares contra presos na sequência de protestos contra a qualidade e a quantidade da alimentação, garantias de que os protestos não estão em causa nos casos de castigos - parece efectivamente que servem para nada, porque a fome continua - o que é castigada será a forma dos protestos (um método efectivamente muito usado em Portugal para desviar as atenções dos problemas à custa da criminalização do mensageiro), denúncia de racionamento no fornecimento de pão (confirmado com o argumento de que havia presos que açambarcavam o pão e era preciso moralizar isso), suspeitas de haver comida sem condições para ser consumida a ser servida em grandes quantidades para alimentação dos presos - único destes elementos de informação que não apresentámos às autoridades, por falta de elementos mais específicos, tudo isto terá consequências no peso e na saúde dos reclusos. Seguem fotos de presos, um actualmente com metade do peso com que entrou (48 kilos). Outro entrado em 2011 com 70 kilos, actualmente com 53 kilos. Já estará pronto para entrar nos mercados?
Auschwitz, Guantanamo, Abu Grahib não emergiram de práticas quotidianas de respeito pelas pessoas presas.
Emergiram do desprezo popular (e institucional) pelas pessoas condenadas, como se não existissem ou como fossem os mais valiosos receptáculos para o sofrimento dos inocentes ou das vítimas.
Emergiram do desprezo popular (e institucional) pelas pessoas condenadas, como se não existissem ou como fossem os mais valiosos receptáculos para o sofrimento dos inocentes ou das vítimas.
O segredo que socialmente organizamos - como povo civilizado - sobre o que se passa nas prisões é a nossa perversão.
A Amnestia Internacional está a fazer campanha em prol da libertação de Albert Woodfox cujo caso vai novamente a julgamento esta terça-feira, dia 7 de Janeiro . Apelamos a que utilizem o link abaixo para juntar o vosso nome às mais de 80,000 !!! pessoas que já assinaram esta petição.
Após a libertação de Robert King a 8 de Fevereiro de 2001 e de Herman Wallace a 1 de Outubro de 2013 Albert Woodfox é agora o único membro dos Angola-3 ainda detrás de grades.
Herman viria trágicamente a morrer três escassos dias após a sua libertação. No entanto,
saiu da prisão inocente e sabendo que o seu movimento para pôr fim aos períodos indefinidos
de prisão solitária dentro dos gulags norte americanos tinha se transformado num movimento
à escala nacional - o seu obituário foi publicado no New York Times - e com impacto além
fronteiras na imagem do sistema judicial norte-americano e pela luta anti-racista.
Para mais notícias sobre o caso dos Angola-3 podem ver o link abaixo.
Via ACED recebemos mais uma denúncia da humanidade que se agiganta nas prisões do país
"De uma cadeia central chegou-nos a informação de ter começado no dia 1 de Janeiro de 2014 uma outra forma de tratar com os problemas de saúde dos presos. Talvez apenas por falta de informação correcta, estas medidas estão a causar apreensão junto dos reclusos. Pelo que será eventualmente conveniente explicar claramente o que aconteceu e o que se espera que venha a acontecer nos próximos meses, a esse respeito.
Foram extintas muitas valências, como psicologia e psiquiatria, oftalmologia, ortopedista, dentista, e todas as consultas e tratamentos destas especialidades ficarão a expensas dos presos, no exterior.
Altas taxas de reclusos precisam de apoio psiquiátrico e psicológico, como se sabe. Tomam todo o tipo de drogas lícitas e ilícitas, recomendáveis ou não. Um médico de clínica geral duas vezes por semana – como parece ser o regime geral nas prisões – servirá para que efeito? Como seleccionará os seus doentes de entre os necessitados de apoio? Visto que, presume-se, muito doentes vão ficar sem apoio específico e também não será possível, por razões logísticas e financeiras, passar a transportá-los aos hospitais em função das suas necessidades.
Os cuidados se saúde são, naturalmente, críticos para as prisões. A integração dos presos no regime geral do sistema nacional de saúde parece poder melhorar as garantias de acesso à saúde dos presos. São conhecidos problemas emergentes do facto de os serviços de saúde estarem sob a alçada dos serviços de segurança das prisões. Todavia, neste período de transição para o novo regime de atendimento da saúde dos presos, a informação sobre os direitos e deveres dos reclusos para terem acesso ao sistema nacional de saúde é importante.
A ACED deixa esta sugestão a quem de direito."
A reaparição do Subcomandante Marcos nos 20 anos do levante zapatista
Com tudo isso e o que continua digo que não temos que escrever/ler biografias? Não, mas o que faz que ande a velha roda da história são os coletivos, não os indivíduos… ou indivíduas. A historiografia se nutre de individualidades; a história aprende de povos.
/Digo que não temos que escrever/estudar história? Não, mas o que digo é que é melhor fazer da única forma que se faz, ou seja, com outros e organizados.
Porque a rebeldia, amigos e inimigos, quando é individual é bela. Mas quando é coletiva e organizada é terrível e maravilhosa. A primeira é matéria de biografias, a segunda é a que faz história.
Por Eduardo Febbro
"Às vésperas de se completarem duas décadas do levante zapatista, o subcomandante Marcos reapareceu com um novo e extenso comunicado .
San Cristobal de las Casas – A prosa está intacta. Sutil e envolvente como o sol da tarde que envolve a praça central de San Cristobal de las Casas. Às vésperas de se completarem duas décadas do levante zapatista, o subcomandante Marcos reapareceu com um novo e extenso comunicado semeado com a ideia da “memória e da rebeldia”.
Na abertura, Marcos cita a novela do escritor norte-americano Herman Melville, Moby Dick. Encontro de uma prosa com outra: “Me parece que temos confundido muito esta questão da Vida e da Morte. Me parece que o que chamam de minha sombra aqui na terra é minha substância autêntica”, diz a prosa de Melville. A de Marcos completa o resto do comunicado. O subcomandante, que há uns cinco anos não aparecia em público, escreve: “É território zapatista, é Chiapas, é México, é América Latina, é a Terra. E é dezembro de 2013, faz frio como há 20 anos, e, como então, hoje há uma bandeira que nos cobre: a da rebeldia”.
Em outro momento de seu comunicado, Marcos acrescenta: “Porque a rebeldia, amigos e inimigos, não é patrimônio exclusivo dos neozapatistas. Ela é patrimônio da humanidade. E isso é algo que é preciso celebrar. Em todas as partes, todos os dias e em todas as horas. Porque a rebeldia é também uma celebração. Não são poucas nem débeis as pontes que, desde todos os rincões do planeta Terra, se estenderam até estes solos e céus. Às vezes com olhares, às vezes com palavras, sempre com nossa luta, temos nos cruzado para abraçar esse outro que resiste e luta”.
Ao longo do texto em que se alternam parágrafos poéticos, guerreiros ou irônicos, o Subcomandante zapatista presta homenagem a todos aqueles que, de uma maneira ou de outra, acompanharam o levante de 20 anos atrás: “Aos que, durante a noite, colocaram nas costas a mochila e a história, aos que tomaram com as mãos o relâmpago e o trovão, aos que calçaram as botas sem futuro, aos que cobriram o rosto e o nome, aos que, sem esperar nada em troca, morreram na longa noite para que outros, todos, todas, em uma manhã ainda por vir, possam ver o dia como é preciso fazê-lo, ou seja, de frente, de pé, com o olhar e o coração erguidos. Para eles, nem biografias nem museus. Para eles, nossa memória e rebeldia. Para eles nosso grito: Liberdade! Liberdade! Liberdade! Saúde e que nossos passos sejam tão grandes como nossos mortos”.
Marcos se pronunciou igualmente com um tom crítico contra todos os mandatários que ocuparam a presidência do México desde que surgiu o Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN): Carlos Salinas de Gortari, Ernesto Zedillo, Vicente Fox, Felipe Calderón e Enrique Peña Nieto. “Vicente Fox é a prova de que o posto de presidente de uma república e de uma filial de uma fábrica de refrigerantes é intercambiável...e que ambos os postos podem ser ocupados por inúteis; Felipe Calderón Hinojosa foi um “presidente valente” (para que outros morressem) e não um psicopata que roubou a arma (a presidência) para seus jogos de guerra (...) e que terminou sendo o que sempre foi: um empregado de segunda em uma multinacional. A propósito do atual presidente, Enrique Peña Nieto, cuja candidatura marcou o regresso do PRI ao poder após 14 anos na oposição, o Subcomandante questionou as reformas que vem adotando desde que foi eleito em fevereiro de 2012, particularmente aquelas no setor da energia:
“Enrique Peña Nieto será um presidente culto e inteligente (bom, é ignorante e tonto, mas hábil), é o novo perfil que se constrói nos grupinhos de analistas políticos, e não um analfabeto funcional”.
O tom deste comunicado é muito menos duro do que o que emitiu no final de 2012. Neste momento e já com o PRI no poder, o EZLN saiu a público, primeiro no dia 21 de dezembro com uma mobilização silenciosa da qual participaram cerca de 40 mil pessoas com o rosto coberto com o famoso gorro dos zapatistas. Nesta ocasião, o líder insurgente emitiu um comunicado onde perguntava: Escutaram? O som de seu mundo ruindo é o do nosso ressurgindo. A marcha do dia 21 foi a maior mobilização protagonizada pelos zapatistas desde que pegaram em armas no dia 1º de janeiro de 1994. Agora chega, pontual e esperado, esse aniversário.
Duas décadas de lutas, de mortos, de injustiças e repressão ao cabo das quais as palavras e o combate seguem vivos.
Segue a íntegra do novo comunicado do Subcomandante Marcos."
QUANDO OS MORTOS CALAM EM VOZ ALTA
(No que se reflete sobre @s ausentes, as biografias, narra o primeiro encontro de Durito com o Gato-Perro, e fala de outros assuntos que não vem ao caso, ou coisa, segundo irá ditando o pós-data impertinente)
Novembro - Dezembro de 2013.
Me parece que confundimos muito esta questão da Vida e da Morte. Me parece que o que chamam minha sombra aqui na terra é minha substância autêntica. Me parece que, ao ver as coisas espirituais, somos demasiado como ostras que observam o sol através da água e pensam que a densa água é a mais fina das atmosferas. Me parece que meu corpo não é mais que as fezes de meu melhor ser. De fato, que leve meu corpo quem queira, que o leve, digo: não sou eu.
Herman Melville “Moby Dick”.
Já faz um bom de tempo que sustento que a maioria das biografias não são mais que uma mentira documentada, e às vezes, não sempre, bem redigida. O biógrafo médio tem uma convicção prévia e a margem de tolerância é muito reduzida, quando não inexistente. Com essa convicção começa a movimentar o quebra-cabeças de uma vida que lhe é alheia (por isso seu interesse em fazer a biografia), e vai coletando as peças falsas que o permitam documentar sua própria convicção, não a vida resenhada.
O certo é que talvez pudéssemos conhecer com certeza data e lugar de nascimento e, em alguns casos, data e lugar de falecimento. Fora isso, a maioria das biografias deveriam estar no ramo de “histórias noveladas” ou “ficção-científica”.
O que sobra então de uma vida? Pouco ou muito, dizemos nós.
Pouco ou muito, dependendo da memória.
Ou, melhor, dos fragmentos que na memória coletiva essa vida imprimiu.
Se isso não vale para biógrafos e editores, pouco importa para o comum das pessoas.
(No que se reflete sobre @s ausentes, as biografias, narra o primeiro encontro de Durito com o Gato-Perro, e fala de outros assuntos que não vem ao caso, ou coisa, segundo irá ditando o pós-data impertinente)
Novembro - Dezembro de 2013.
Me parece que confundimos muito esta questão da Vida e da Morte. Me parece que o que chamam minha sombra aqui na terra é minha substância autêntica. Me parece que, ao ver as coisas espirituais, somos demasiado como ostras que observam o sol através da água e pensam que a densa água é a mais fina das atmosferas. Me parece que meu corpo não é mais que as fezes de meu melhor ser. De fato, que leve meu corpo quem queira, que o leve, digo: não sou eu.
Herman Melville “Moby Dick”.
Já faz um bom de tempo que sustento que a maioria das biografias não são mais que uma mentira documentada, e às vezes, não sempre, bem redigida. O biógrafo médio tem uma convicção prévia e a margem de tolerância é muito reduzida, quando não inexistente. Com essa convicção começa a movimentar o quebra-cabeças de uma vida que lhe é alheia (por isso seu interesse em fazer a biografia), e vai coletando as peças falsas que o permitam documentar sua própria convicção, não a vida resenhada.
O certo é que talvez pudéssemos conhecer com certeza data e lugar de nascimento e, em alguns casos, data e lugar de falecimento. Fora isso, a maioria das biografias deveriam estar no ramo de “histórias noveladas” ou “ficção-científica”.
O que sobra então de uma vida? Pouco ou muito, dizemos nós.
Pouco ou muito, dependendo da memória.
Ou, melhor, dos fragmentos que na memória coletiva essa vida imprimiu.
Se isso não vale para biógrafos e editores, pouco importa para o comum das pessoas.
Costuma acontecer que o que realmente importa não aparece nos meios de comunicação, nem se pode medir em pesquisas.
Logo, de uma pessoa ausente só temos peças arbitrárias do complexo quebra-cabeças feito de farrapos, rasgos e tendências que se conhecem como “vida”.
Assim que, com esse início confuso, permitam-me levantar algumas dessas peças fragmentadas para abraçar e abraçarmos pela passagem que hoje nos falta e necessitamos…
Um concerto no silêncio mexicano. Don Juan Chávez Alonso, purépecha, zapatista e mexicano, faz um gesto como se estivesse afastando de si um inseto incômodo. É sua resposta à desculpa que lhe dou por uma de minhas torpes grosserias. Estamos em território Cucapá, no meio de um terreno arenoso. Nessas coordenadas geográficas e quando no calendário se assinala a Sexta 2006 no Noroeste do México, na grande barraca de campanha que lhe serve de hospedagem, Don Juan toma o violão e pergunta se queremos escutar algo que compôs. Apenas afina e inicia um concerto que, sem letra alguma, narra o levantamento zapatista desde primeiro de janeiro de 1994 até a presença da Comandanta Ramona na formação do Congresso Nacional Indígena.
Um silêncio depois, como se fosse uma nota mais.
Um silêncio no qual calavam em voz alta nossos mortos.
Logo, de uma pessoa ausente só temos peças arbitrárias do complexo quebra-cabeças feito de farrapos, rasgos e tendências que se conhecem como “vida”.
Assim que, com esse início confuso, permitam-me levantar algumas dessas peças fragmentadas para abraçar e abraçarmos pela passagem que hoje nos falta e necessitamos…
Um concerto no silêncio mexicano. Don Juan Chávez Alonso, purépecha, zapatista e mexicano, faz um gesto como se estivesse afastando de si um inseto incômodo. É sua resposta à desculpa que lhe dou por uma de minhas torpes grosserias. Estamos em território Cucapá, no meio de um terreno arenoso. Nessas coordenadas geográficas e quando no calendário se assinala a Sexta 2006 no Noroeste do México, na grande barraca de campanha que lhe serve de hospedagem, Don Juan toma o violão e pergunta se queremos escutar algo que compôs. Apenas afina e inicia um concerto que, sem letra alguma, narra o levantamento zapatista desde primeiro de janeiro de 1994 até a presença da Comandanta Ramona na formação do Congresso Nacional Indígena.
Um silêncio depois, como se fosse uma nota mais.
Um silêncio no qual calavam em voz alta nossos mortos.
Também no noroeste mexicano, a loucura sangrenta do Poder pinta de absurdos ainda impunes o calendário abaixo. 5 de junho de 2009. A cobiça e o despotismo governamentais lançaram fogo a uma creche para infantes. As vítimas mortais, 49 meninos e meninas, são as baixas colaterais quando se destroem arquivos comprometedores. Ao absurdo de que os pais sepultem os filhos, segue o de uma justiça débil e corrupta: os responsáveis não recebem uma ordem de apreensão mas cargos no gabinete do criminoso que, sob o azul da Ação Nacional, tratará de ocultar o banho de sangue no qual sumiu ao país inteiro.
Onde os biógrafos encerram suas anotações “porque uns poucos anos de vida não são rentáveis”, a história de baixo abre seu caderno de outros absurdos: com sua injusta ausência, essas crianças pariram outros homens e mulheres. Seus pais e mães levantam desde então a demanda da justiça maior: a de que a injustiça não se repita.
Onde os biógrafos encerram suas anotações “porque uns poucos anos de vida não são rentáveis”, a história de baixo abre seu caderno de outros absurdos: com sua injusta ausência, essas crianças pariram outros homens e mulheres. Seus pais e mães levantam desde então a demanda da justiça maior: a de que a injustiça não se repita.
“O problema com a vida é que ao final te mata”, havia dito Durito, cujas fantasiosas histórias cavalheirescas tanto divertiam Chapis. Ainda que ela tenha perguntado, com essa impertinente mistura de ingenuidade e sinceridade que desconcertava quem não a conhecesse, “e por que um problema?”. Don Durito da Lacandona, escaravelho de origem e de ofício cavaleiro andante, teria evitado polemizar com ela, posto que, segundo um suposto regulamento da cavalaria andante, não se deve contradizer uma dama, (sobretudo se a dama em questão tem boas influências “muito acima”, agregava Durito que sabia que a Chapis era religiosa, monja, irmã, ou como queiram vocês chamar as mulheres que fazem da fé, sua vida e profissão).
A Chapis não nos conhecia. Quero dizer, não como quem nos vê de fora e sobre nós escreve, fala… ou mal fala (agora vocês veem como são passageiras as modas). A Chapis era com nós. E era muito tempo antes de que um escaravelho impertinente se empessoasse nas montanhas do sudeste mexicano para declarar-se cavaleiro andante.
E, talvez por ser em nós, era que a Chapis não parecia se inquietar tanto com isso de vida e morte. Como essa atitude tão nossa, dos neozapatistas, em que tudo se inverte e não é a morte que a preocupa e ocupa, mas a vida.
Mas a Chapis não era só em nós. É claro que fomos só uma parte de seu andar. E se agora lhes conto algo dela não é para dar apontamentos para sua biografia, mas para dizer o que aqui sentimos. Porque a história desta crente, sua história conosco, é das que fazem duvidar os fanáticos ateus.
“A religião é o ópio dos povos”? Não sei. O que sei é que a explicação mais brilhante que escutei sobre a destruição e despovoamento que a globalização neoliberal opera em um território foi dada, não por um teórico marxista-leninista-ateísta-e-alguns-istas-mais, mas… um padre cristão, católico, apostólico e romano, aderente à Sexta, e desterrado pelo alto clero (“por pensar muito”, me disse como pedindo desculpas) a um dos desertos geográficos do planalto mexicano .
A Chapis não nos conhecia. Quero dizer, não como quem nos vê de fora e sobre nós escreve, fala… ou mal fala (agora vocês veem como são passageiras as modas). A Chapis era com nós. E era muito tempo antes de que um escaravelho impertinente se empessoasse nas montanhas do sudeste mexicano para declarar-se cavaleiro andante.
E, talvez por ser em nós, era que a Chapis não parecia se inquietar tanto com isso de vida e morte. Como essa atitude tão nossa, dos neozapatistas, em que tudo se inverte e não é a morte que a preocupa e ocupa, mas a vida.
Mas a Chapis não era só em nós. É claro que fomos só uma parte de seu andar. E se agora lhes conto algo dela não é para dar apontamentos para sua biografia, mas para dizer o que aqui sentimos. Porque a história desta crente, sua história conosco, é das que fazem duvidar os fanáticos ateus.
“A religião é o ópio dos povos”? Não sei. O que sei é que a explicação mais brilhante que escutei sobre a destruição e despovoamento que a globalização neoliberal opera em um território foi dada, não por um teórico marxista-leninista-ateísta-e-alguns-istas-mais, mas… um padre cristão, católico, apostólico e romano, aderente à Sexta, e desterrado pelo alto clero (“por pensar muito”, me disse como pedindo desculpas) a um dos desertos geográficos do planalto mexicano .
Acho (talvez me engane, não seria a primeira vez e, seguramente, não será a última), que muitas pessoas, senão todas, que se aproximaram do que se conhece como neozapatismo, o fizeram buscando respostas a perguntas feitas nas histórias pessoais de cada um, segundo seu calendário e geografia. E que demoram apenas o indispensável para encontrar a resposta. Quando se deram conta de que a resposta era o monossílabo mais problemático da história, viraram para o outro lado e para lá se puseram a andar. Não importa quanto digam e se digam que continuam estando aqui: foram embora. Umas pessoas mais rápido que outras. E a maioria delas não nos olham, ou o fazem com a mesma distância e desdém intelectual que os que hastearam calendários antes que amanhecesse o janeiro de 1994.
Acho que já disse antes, em alguma outra missiva, não estou seguro. Mas como queira digo, ou repito aqui, que esse perigoso monossílabo é “tu”. Assim, com minúsculas, porque essa resposta era e é íntima a cada um. E cada um a toma com o terror respectivo.
Porque a luta é coletiva, mas a decisão de lutar é individual, pessoal, íntima, como o é a de seguir ou claudicar.
Digo que as poucas pessoas que ficaram (e não me refiro à geografia, mas ao coração) não encontraram essa resposta? Não. O que trato de dizer é que a Chapis não veio procurando essa resposta à sua pergunta pessoal. Ela já conhecia a resposta e havia feito desse “tu” seu caminho e meta: seu ser crente e consequente.
Muitas outras, muitos outros como ela, mas diferentes, já haviam se respondido em outros calendários e geografias. Ateus e crentes. Homens, mulheres e outr@s de todos os calendários. São esses, essas, ess@s, que sempre, vivos ou mortos, se colocam frente ao Poder, não como vítimas, mas para desafiá-lo com a múltipla bandeira da esquerda de baixo. São nossas companheiras, companheiros e companheir@s… ainda que na maioria dos casos nem el@s nem nós o saibamos… ainda.
Porque a rebeldia, amigos e inimigos, não é patrimônio exclusivo dos neozapatistas. É da humanidade. E isso é algo que temos que celebrar. Em todos os lugares, todos os dias e a todas as horas. Porque a rebeldia é também uma celebração.
Acho que já disse antes, em alguma outra missiva, não estou seguro. Mas como queira digo, ou repito aqui, que esse perigoso monossílabo é “tu”. Assim, com minúsculas, porque essa resposta era e é íntima a cada um. E cada um a toma com o terror respectivo.
Porque a luta é coletiva, mas a decisão de lutar é individual, pessoal, íntima, como o é a de seguir ou claudicar.
Digo que as poucas pessoas que ficaram (e não me refiro à geografia, mas ao coração) não encontraram essa resposta? Não. O que trato de dizer é que a Chapis não veio procurando essa resposta à sua pergunta pessoal. Ela já conhecia a resposta e havia feito desse “tu” seu caminho e meta: seu ser crente e consequente.
Muitas outras, muitos outros como ela, mas diferentes, já haviam se respondido em outros calendários e geografias. Ateus e crentes. Homens, mulheres e outr@s de todos os calendários. São esses, essas, ess@s, que sempre, vivos ou mortos, se colocam frente ao Poder, não como vítimas, mas para desafiá-lo com a múltipla bandeira da esquerda de baixo. São nossas companheiras, companheiros e companheir@s… ainda que na maioria dos casos nem el@s nem nós o saibamos… ainda.
Porque a rebeldia, amigos e inimigos, não é patrimônio exclusivo dos neozapatistas. É da humanidade. E isso é algo que temos que celebrar. Em todos os lugares, todos os dias e a todas as horas. Porque a rebeldia é também uma celebração.
Não são poucas nem débeis as pontes que, desde todos os cantos do planeta Terra, seestenderam até estes solos e céus. Às vezes com olhares, às vezes com palavras, sempre com nossa luta, atravessamos todos para abraçar a este outro que resiste e luta.
Talvez disso e não de outra coisa se trata o de “ser companheiros”: de atravessar pontes.
Como neste abraço feito letras para as irmãs da Chapis que, como nós, tem saudades e, como nós, precisam dela.
Como neste abraço feito letras para as irmãs da Chapis que, como nós, tem saudades e, como nós, precisam dela.
A impunidade, querido Matías, é algo que só a justiça pode outorgar; é a Justiça exercendo a injustiça”. Tomais Segovia, em “Cartas Cabales”.
Já disse antes que, segundo minha humilde opinião, cada um é o herói ou a heroína de sua própria história individual. E que na sedativa auto complacência de narrar “esta é minha história pessoal”, se editam fatos e não-fatos, se inventam as fantasias mais incríveis, e o narrar anedotas se parece demasiadamente ao fazer contas do avarento que rouba o alheio.
O ancestral afã de transcender à morte própria encontra nas biografias o substituto ao elixir da eterna juventude. Claro, também na descendência. Mas a biografia é, para dizer de alguma forma, “mais perfeita”. Não se trata de alguém que se parece, é o “eu” alongado no tempo graças à “magia” da biografia.
Acudiu o biógrafo de cima a documentos da época, talvez a testemunhos de familiares, amigos ou companheir@s da vida cuja morte se apropria. Os “documentos” têm a mesma certeza que os prognósticos meteorológicos, e os testemunhos obviam a delgada separação entre o “eu acho que…” e o “eu sei que…”. E então a “veracidade” da biografia se mede pela quantidade de notas de rodapé. Para as biografias vale o mesmo que para as faturas de gasto em “imagem” governamental: quanto mais volumosas, mais certas.Na atualidade, com a internet, os tuiters, os feisbuc e equivalentes, os mitos biográficos arredondam suas falácias e, voilá, se reconstrói a história de uma vida, ou fragmentos dela, que pouco ou nada têm a ver com a história real. Mas não importa, porque a biografia está publicada, impressa, circula, é lida, citada, recitada… como a mentira.
Cheque você nas modernas fontes documentais das biografias futuras, ou seja, Wikipedia e os blogs, Facebook e os “perfis” respectivos. Agora compare com a realidade:
Não lhe dão calafrios ao dar-se conta de que, talvez, no futuro…
Carlos Salinas de Gortari será “o visionário que entendeu que vender a uma Nação era, além de um negócio familiar (claro, entendendo como família a sanguínea e a política), um ato de patriotismo moderno”, e não o líder de uma gangue de traidores (não se façam, aí andam, na oposição “madura e responsável”, vári@s daqueles que apoiaram a reforma ao artigo 27 constitucional, o separador de águas da claudicação do Estado Nacional no México);
Ernesto Zedillo Ponce de Leão não será o “homem de Estado” que levou toda uma Nação de uma crise a outra pior (além de ser um dos autores intelectuais, junto com Emilio Chuayffet e Mario Renán Castillo, do massacre de Acteal), mas que levou “as rendas do país” com um singular sentido do humor… para terminar sendo o que sempre foi: um empregado de segunda em uma multinacional;
Vicente Fox será a amostra de que o cargo de presidente de uma república e de uma filial de sombra é intercambiável… e que ambos os cargos podem ser ocupados por inúteis;
Felipe Calderón Hinojosa será um “presidente valente” (para que outros morressem) e não um psicopata que roubou a arma (a presidência) para seus jogos de guerra… e que terminou sendo o que sempre foi: um empregado de segunda em uma multinacional;
Enrique Peña Nieto será um presidente culto e inteligente (“bom, é ignorante e bobo, mas hábil”, é o novo perfil que lhe constroem nos jograis de analistas políticos), e não um analfabeto funcional (nem modo, como diz o provérbio popular: “o que a natureza não dá, a Monex não compra”) …?
Ah, as biografias. Não poucas vezes são autobiografias, ainda que sejam os descendentes (ou os compinchas) quem as promovam e assim adornam sua árvore genealógica.
Os criminosos da classe política mexicana que mal governaram estas terras continuarão sendo, para aqueles que padeceram seus desmandos, criminosos impunes. Não importa quantas linhas se paguem nos meios de comunicação nem quanto se gaste em espetáculos nas ruas, na imprensa escrita, em rádio e televisão. De los Díaz (Porfirio e Gustavo) aos Calderón e Peña, dos Castellanos e Sabines aos Albores e Velasco, só media a troca (via redes sociais, porque nos meios de comunicação pagos continuam sendo “pessoas responsáveis e maduras”) da ridícula frivolidade dos “Juniors”.
Mas o mundo é redondo e no contínuo sobe e desce da política de cima, se pode passar, em pouco tempo, da capa da revista “Hola”, ao “PROCURA-SE: CRIMINOSO PERIGOSO”; da patuscada de dezembro do TLC à crua do levantamento zapatista; do “homem do ano” à “greve de fome” com água engarrafada de marca “chic” (não tem jeito, até para os protestos há classes sociais); do aplauso pelas piadas ruins, ao filicídio putativo por concretizar-se; do nepotismo e da corrupção adornados com ocorrências à investigação por ligações com o narcotráfico; dos trajes militares tamanho extra grande, ao exílio temeroso e manchado de sangue; da patuscada de dezembro entreguista a…
Já disse antes que, segundo minha humilde opinião, cada um é o herói ou a heroína de sua própria história individual. E que na sedativa auto complacência de narrar “esta é minha história pessoal”, se editam fatos e não-fatos, se inventam as fantasias mais incríveis, e o narrar anedotas se parece demasiadamente ao fazer contas do avarento que rouba o alheio.
O ancestral afã de transcender à morte própria encontra nas biografias o substituto ao elixir da eterna juventude. Claro, também na descendência. Mas a biografia é, para dizer de alguma forma, “mais perfeita”. Não se trata de alguém que se parece, é o “eu” alongado no tempo graças à “magia” da biografia.
Acudiu o biógrafo de cima a documentos da época, talvez a testemunhos de familiares, amigos ou companheir@s da vida cuja morte se apropria. Os “documentos” têm a mesma certeza que os prognósticos meteorológicos, e os testemunhos obviam a delgada separação entre o “eu acho que…” e o “eu sei que…”. E então a “veracidade” da biografia se mede pela quantidade de notas de rodapé. Para as biografias vale o mesmo que para as faturas de gasto em “imagem” governamental: quanto mais volumosas, mais certas.Na atualidade, com a internet, os tuiters, os feisbuc e equivalentes, os mitos biográficos arredondam suas falácias e, voilá, se reconstrói a história de uma vida, ou fragmentos dela, que pouco ou nada têm a ver com a história real. Mas não importa, porque a biografia está publicada, impressa, circula, é lida, citada, recitada… como a mentira.
Cheque você nas modernas fontes documentais das biografias futuras, ou seja, Wikipedia e os blogs, Facebook e os “perfis” respectivos. Agora compare com a realidade:
Não lhe dão calafrios ao dar-se conta de que, talvez, no futuro…
Carlos Salinas de Gortari será “o visionário que entendeu que vender a uma Nação era, além de um negócio familiar (claro, entendendo como família a sanguínea e a política), um ato de patriotismo moderno”, e não o líder de uma gangue de traidores (não se façam, aí andam, na oposição “madura e responsável”, vári@s daqueles que apoiaram a reforma ao artigo 27 constitucional, o separador de águas da claudicação do Estado Nacional no México);
Ernesto Zedillo Ponce de Leão não será o “homem de Estado” que levou toda uma Nação de uma crise a outra pior (além de ser um dos autores intelectuais, junto com Emilio Chuayffet e Mario Renán Castillo, do massacre de Acteal), mas que levou “as rendas do país” com um singular sentido do humor… para terminar sendo o que sempre foi: um empregado de segunda em uma multinacional;
Vicente Fox será a amostra de que o cargo de presidente de uma república e de uma filial de sombra é intercambiável… e que ambos os cargos podem ser ocupados por inúteis;
Felipe Calderón Hinojosa será um “presidente valente” (para que outros morressem) e não um psicopata que roubou a arma (a presidência) para seus jogos de guerra… e que terminou sendo o que sempre foi: um empregado de segunda em uma multinacional;
Enrique Peña Nieto será um presidente culto e inteligente (“bom, é ignorante e bobo, mas hábil”, é o novo perfil que lhe constroem nos jograis de analistas políticos), e não um analfabeto funcional (nem modo, como diz o provérbio popular: “o que a natureza não dá, a Monex não compra”) …?
Ah, as biografias. Não poucas vezes são autobiografias, ainda que sejam os descendentes (ou os compinchas) quem as promovam e assim adornam sua árvore genealógica.
Os criminosos da classe política mexicana que mal governaram estas terras continuarão sendo, para aqueles que padeceram seus desmandos, criminosos impunes. Não importa quantas linhas se paguem nos meios de comunicação nem quanto se gaste em espetáculos nas ruas, na imprensa escrita, em rádio e televisão. De los Díaz (Porfirio e Gustavo) aos Calderón e Peña, dos Castellanos e Sabines aos Albores e Velasco, só media a troca (via redes sociais, porque nos meios de comunicação pagos continuam sendo “pessoas responsáveis e maduras”) da ridícula frivolidade dos “Juniors”.
Mas o mundo é redondo e no contínuo sobe e desce da política de cima, se pode passar, em pouco tempo, da capa da revista “Hola”, ao “PROCURA-SE: CRIMINOSO PERIGOSO”; da patuscada de dezembro do TLC à crua do levantamento zapatista; do “homem do ano” à “greve de fome” com água engarrafada de marca “chic” (não tem jeito, até para os protestos há classes sociais); do aplauso pelas piadas ruins, ao filicídio putativo por concretizar-se; do nepotismo e da corrupção adornados com ocorrências à investigação por ligações com o narcotráfico; dos trajes militares tamanho extra grande, ao exílio temeroso e manchado de sangue; da patuscada de dezembro entreguista a…
Com tudo isso e o que continua digo que não temos que escrever/ler biografias? Não, mas o que faz que ande a velha roda da história são os coletivos, não os indivíduos… ou indivíduas. A historiografia se nutre de individualidades; a história aprende de povos.
/Digo que não temos que escrever/estudar história? Não, mas o que digo é que é melhor fazer da única forma que se faz, ou seja, com outros e organizados.
Porque a rebeldia, amigos e inimigos, quando é individual é bela. Mas quando é coletiva e organizada é terrível e maravilhosa. A primeira é matéria de biografias, a segunda é a que faz história.
E não com palavras abraçamos nossos companheiros e companheiras zapatistas, ateus e crentes:os que de noite puseram a mochila e a história nas costas,
aos que tomaram com as mãos o relâmpago e o trovão,
aos que se calçaram as botas sem futuro,
aos que se cobriram o rosto e o nome,
aos que, sem esperar nada em troca, na longa noite morreram
para que outros, todos, todas, em uma manhã por vir ainda,
possam ver o dia como tem que ser,
ou seja, de frente, de pé e com o olhar e o coração erguidos.
Para eles nem biografias nem museus.
Para eles nossa memória e rebeldia.
Para eles nosso grito:
liberdade! Liberdade! LIBERDADE!
Vale. Saúde e que nossos passos sejam tão grandes como nossos mortos.
O SupMarcos.
P.D. DE INSTRUÇÕES ÓBVIAS - Agora sim, seja tão amável de ler, em calendário inverso, desde Rebobinar 1 até o 3, e talvez assim encontre o gato-perro e algumas dúvidas se esclareçam. E sim, tenha a segurança de que surgirão mais perguntas.
P.D. QUE ATENDE, SOLÍCITA, AOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO PAGOS - Ah! Comovedor o esforço dos contras nos meios pagos para tratar de dar argumentos aos poucos leitores-ouvintes-videntes contras que lhes sobram. Mas, generoso pela época de natal, aqui lhes mando algumas dicas para que usem de material jornalístico:
. - Se as condições das comunidades indígenas zapatistas estão iguais que há 20 anos e nada se avançou em seu nível de vida, por que o EZLN – como fez em 1994 com a imprensa paga - se “abre” com a escolinha para que a gente de baixo veja e conheça diretamente, SEM INTERMEDIÁRIOS, o que existe aqui.
aos que tomaram com as mãos o relâmpago e o trovão,
aos que se calçaram as botas sem futuro,
aos que se cobriram o rosto e o nome,
aos que, sem esperar nada em troca, na longa noite morreram
para que outros, todos, todas, em uma manhã por vir ainda,
possam ver o dia como tem que ser,
ou seja, de frente, de pé e com o olhar e o coração erguidos.
Para eles nem biografias nem museus.
Para eles nossa memória e rebeldia.
Para eles nosso grito:
liberdade! Liberdade! LIBERDADE!
Vale. Saúde e que nossos passos sejam tão grandes como nossos mortos.
O SupMarcos.
P.D. DE INSTRUÇÕES ÓBVIAS - Agora sim, seja tão amável de ler, em calendário inverso, desde Rebobinar 1 até o 3, e talvez assim encontre o gato-perro e algumas dúvidas se esclareçam. E sim, tenha a segurança de que surgirão mais perguntas.
P.D. QUE ATENDE, SOLÍCITA, AOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO PAGOS - Ah! Comovedor o esforço dos contras nos meios pagos para tratar de dar argumentos aos poucos leitores-ouvintes-videntes contras que lhes sobram. Mas, generoso pela época de natal, aqui lhes mando algumas dicas para que usem de material jornalístico:
. - Se as condições das comunidades indígenas zapatistas estão iguais que há 20 anos e nada se avançou em seu nível de vida, por que o EZLN – como fez em 1994 com a imprensa paga - se “abre” com a escolinha para que a gente de baixo veja e conheça diretamente, SEM INTERMEDIÁRIOS, o que existe aqui.
E já posto em “modo interrogativo”, por que no mesmo período se reduziu, também exponencialmente, o número de leitores-ouvintes-telespectadores dos meios de comunicação pagos? Pst, pst, podem responder que não têm menos leitores-ouvintes-telespectadores – isso reduziria a publicidade e o chuchu -, que o que acontece é que agora são mais “seletivos”.
- Vocês perguntam “Que fez o EZLN pelas comunidades indígenas? E nós estamos respondendo com o testemunho direto de dezenas de milhares de nossos companheiros e companheiras.
- Vocês perguntam “Que fez o EZLN pelas comunidades indígenas? E nós estamos respondendo com o testemunho direto de dezenas de milhares de nossos companheiros e companheiras.
Agora vocês, os donos e acionistas, diretores e chefes, respondam:
Que fizeram, nestes 20 anos, pelos trabalhadores dos meios de comunicação, um dos setores mais golpeados pelo crime existente e alentado pelo regime a quem tanto adoram? Que fizeram pelos jornalistas, as jornalistas ameaçadas, sequestradas e assassinadas? E por seus familiares? Que fizeram para melhorar as condições de vida de seus trabalhadores? Aumentaram o salário para que tenham uma vida digna e não tenham que vender sua palavra ou seu silêncio frente à realidade? Criaram as condições para que se retirem, depois de anos de trabalhar para vocês, dignamente? Deram-lhes segurança no emprego? Quero dizer, o emprego de um repórter já não depende do humor do chefe de redação ou dos “favores”, sexuais ou de outro tipo, que demandam a todos os gêneros?
Que fizeram para que o ser trabalhador dos meios de comunicação seja um orgulho que não custe a perda da liberdade ou a vida ao ser honesto?
Que fizeram, nestes 20 anos, pelos trabalhadores dos meios de comunicação, um dos setores mais golpeados pelo crime existente e alentado pelo regime a quem tanto adoram? Que fizeram pelos jornalistas, as jornalistas ameaçadas, sequestradas e assassinadas? E por seus familiares? Que fizeram para melhorar as condições de vida de seus trabalhadores? Aumentaram o salário para que tenham uma vida digna e não tenham que vender sua palavra ou seu silêncio frente à realidade? Criaram as condições para que se retirem, depois de anos de trabalhar para vocês, dignamente? Deram-lhes segurança no emprego? Quero dizer, o emprego de um repórter já não depende do humor do chefe de redação ou dos “favores”, sexuais ou de outro tipo, que demandam a todos os gêneros?
Que fizeram para que o ser trabalhador dos meios de comunicação seja um orgulho que não custe a perda da liberdade ou a vida ao ser honesto?
Podem dizer que seu trabalho é mais respeitado por governantes e governados que há 20 anos?
Que fizeram contra a censura imposta ou tolerada? Podem dizer que seus leitores-ouvintes-telespectadores estão mais bem informados que há 20 anos? Podem dizer que têm mais credibilidade que há 20 anos? Podem dizer que sobrevivem graças a seus leitores-ouvintes-telespectadores e não pela publicidade, majoritariamente governamental?
Aí lhes respondem a seus trabalhadores e leitores-ouvintes-telespectadores, assim como nós lhes respondemos aos nossos companheiros e companheiras.
Oh, vamos, não fiquem tristes. Não somos os únicos que escapamos de seu papel de juiz e carrasco, suplicando sua absolvição e recebendo sempre sua pena. Está também, por exemplo, a realidade.
Vale de nove, ou, melhor, de sessenta e nove.
O Sup dizendo-se que é melhor um polegar para baixo que um dedo médio para cima.
É território zapatista, é Chiapas, é México, é América Latina, é a Terra. E é dezembro de 2013, faz frio como há 20 anos, e, como então, hoje uma bandeira nos cobre: a da rebeldia.
Que fizeram contra a censura imposta ou tolerada? Podem dizer que seus leitores-ouvintes-telespectadores estão mais bem informados que há 20 anos? Podem dizer que têm mais credibilidade que há 20 anos? Podem dizer que sobrevivem graças a seus leitores-ouvintes-telespectadores e não pela publicidade, majoritariamente governamental?
Aí lhes respondem a seus trabalhadores e leitores-ouvintes-telespectadores, assim como nós lhes respondemos aos nossos companheiros e companheiras.
Oh, vamos, não fiquem tristes. Não somos os únicos que escapamos de seu papel de juiz e carrasco, suplicando sua absolvição e recebendo sempre sua pena. Está também, por exemplo, a realidade.
Vale de nove, ou, melhor, de sessenta e nove.
O Sup dizendo-se que é melhor um polegar para baixo que um dedo médio para cima.
É território zapatista, é Chiapas, é México, é América Latina, é a Terra. E é dezembro de 2013, faz frio como há 20 anos, e, como então, hoje uma bandeira nos cobre: a da rebeldia.
Texto de John Pilger |
"No fim dos anos 1960 o editor-chefe do London Daily Mirror, Hugh Cudlipp, atribuiu-me mais uma missão. Devia retornar à minha pátria, a Austrália, e "descobrir o que está por trás da sua face radiante". O Mirror fizera uma campanha incansável contra o apartheid na África do Sul, onde havia relatado o que estava por trás da sua "face radiante". Como australiano, eu fora bem recebido naquela fortaleza da supremacia branca. "Admiramos vocês aussies ", diziam as pessoas. "Vocês sabem como tratar os seus negros".
Eu ficava ofendido, é claro, mas também sabia que apenas o Oceano Índico separava as atitudes raciais das duas nações coloniais. Do que eu não estava consciente era de como a semelhança provocou tamanho sofrimento entre o povo original do meu próprio país. Quando crescia, meus livros escolares haviam deixado claro, para citar um historiador: "Nós somos civilizados e eles não são". Recordo como a uns poucos talentosos jogadores da Aboriginal Rugby League foi permitido atingirem sua glória desde que eles nunca mencionassem o seu povo. Eddie Gilbert, o grande jogador aborígene de críquete, o homem que bateu Don Bratman com um resultado zero ( duck ) , foi impedido de jogar outra vez. Isso não era atípico.
Em 1969 voei para Alice Springs no coração vermelho da Austrália e encontrei-me com Charlie Perkins. Num tempo em que o povo aborígene nem sequer era contado no recenseamento – ao contrário dos carneiros – Charlie era apenas o segundo aborígene a obter um grau universitário. Ele tem feito bom uso desta distinção liderando "campanhas itinerantes" ("freedom rides") em cidades racialmente segregadas no sertão australiano da Nova Gales do Sul. Ele apanhou a ideia das campanhas itinerantes nas que se verificaram no Sul Profundo (Deep South) dos Estados Unidos.
Alugámos um velho Ford, apanhámos a mãe de Charlie, Hetti, uma anciã do povo aranda, e fomos para o que Charlie descreveu como "inferno". Era Jay Creeki, uma "reserva nativa", onde centenas de aborígenes eram encurralados em condições que eu só tinha visto na África e na Índia. De uma torneira do lado de fora pingava um líquido castanho; ali não havia instalações sanitárias; a comida, ou "rações", era fécula e açúcar. As crianças tinham pernas finas como palitos e barrigas inchadas pela desnutrição.
O que me impressionou foi o número de mães e avós enlutadas – desoladas pelo roubo de filhos pela polícia e autoridades do "bem-estar" que, durante anos, haviam levado aquelas crianças com pelo mais clara. A política era a "assimilação". Hoje, isto mudou apenas no nome e na racionalização.
Os rapazes acabariam a trabalhar em fazendas dirigidas por brancos, as meninas como serviçais em lares da classe média. Isto era trabalho escravo não declarado. Eles eram conhecidos como a Geração Roubada. Hetti Perkins contou-me que quando Charlie era criança ela teve de mantê-lo atado às suas costas e escondia-o sempre que ouvia o tropel dos cavalos da polícia. "Eles não o levaram", disse ela, com orgulho.
Em 2008, o primeiro-ministro Kevin Rudd pediu desculpas por este crime contra a humanidade. Os aborígenes mais velhos ficaram gratos; acreditaram que o primeiro povo da Austrália – a mais duradoura presença humana sobre a terra – podia finalmente receber a justiça e o reconhecimento que lhe fora negado durante 220 anos.
O que poucos deles ouviram foi o PS adicional das desculpas de Rudd. "Quero ser categórico acerca disto", disse ele. "Não haverá indemnização". Que a 100 mil pessoas profundamente ofendidas e marcadas pelo ódio racista – resultado de uma forma de movimento eugenista com ligações ao fascismo – não fosse dada qualquer oportunidade para restabelecerem suas vidas era chocante, embora não surpreendente. A maior parte dos governos em Canberra, conservadores ou trabalhistas, tem insinuado que os primeiros australiano são culpáveis pelo seu sofrimento e pobreza.
Quando o governo trabalhista na década de 1980 prometeu "plena reparação" e direitos à terra, o poderoso lobby mineiro avançou com o ataque, gastando milhões a fazer campanha de que "os negros tomariam nossas praias e cerca de arame farpado". O governo capitulou, muito embora a mentira fosse grotesca; o povo aborígene mal chega a três por cento da população australiana.
Hoje, crianças aborígenes estão outra vez a ser roubadas das suas famílias. As palavras burocráticas são "removidas" para "protecção da criança". Em Julho de 2012 havia 13.299 crianças aborígenes em instituições ou entregues a família brancas. Hoje, o roubo destas crianças é mais intenso do que em qualquer momento durante o último século. Entrevistei numerosos especialistas em cuidados infantis que encaram isto como uma segunda geração roubada. "Muitos dos garotos nunca vêem outra vez as suas mães e comunidades", disse-me Olga Havnen, autora de um relatório para o governo do Território do Norte. "No Território do Norte, foram gastos $80 milhões na vigilância e remoção de crianças e menos de $500 mil no apoio a estas famílias empobrecidas. Muitas vezes não é dado qualquer aviso às famílias e elas não têm ideia para onde os seus filhos foram levados. A razão apresentada é negligência – o que quer dizer pobreza. Isto é destruir a cultura aborígene e é racista. Se o apartheid da África do Sul tivesse feito isto, teria havido um alvoroço".
Na cidade de Wilcannia, Nova Gales do Sul, a esperança de vida dos aborígenes é de 37 anos – mais baixa do que na República Centro-Africana, talvez o país mais pobre da Terra, actualmente devastado pela guerra civil. Outra distinção de Wilcannia é que o governo cubano realiza ali um programa de alfabetização, ensinando jovens aborígenes a ler e escrever. É nisto que os cubanos são famosos – nos países mais pobres do mundo. A Austrália é um dos mais ricos do mundo.
Filmei condições semelhantes há 28 anos atrás, quando fiz meu primeiro filme acerca dos indígenas da Austrália, The Secret Country . Vince Forrester, um ancião aborígene que então entrevistei, aparece no meu novo filme, Utopia. . Ele levou-me a uma casa em Mutitjulu onde viviam 32 pessoas, na maior parte crianças, muitos deles a sofrerem otite média, uma doença infecciosa totalmente evitável que prejudica a audição e a fala. "Setenta por cento das crianças nesta casa está parcialmente surda", disse ele. Voltando-se directamente para a minha câmara, disse: "Australianos, isto é o que nós chamamos um insulto aos direitos humanos".
A maioria dos australianos raramente é confrontada com o segredo mais sujo da sua nação. Em 2009, o respeitado Relator Especial das Nações Unidas, Professor James Anaya, testemunhou condições semelhantes e descreveu as políticas de "intervenção" do governo como racistas. O então ministro para a Saúde Indígena, Tony Abbott, para "fazer algo útil" e parar de ouvir "a brigada da vítima". Abbott é agora o primeiro-ministro da Austrália.
Na Austrália Ocidental são escavados minérios da terra aborígene e despachados para a China com um lucro de mil milhões de dólares por semana. Neste, o estado mais rico e mais próspero, as prisões enchem-se com aborígenes esmagados, incluindo jovens cujas mães postam-se às portas da prisão, suplicando pela sua libertação. Aqui o encarceramento de australianos negros é oito vezes superior ao dos negros sul-africanos durante a última década do apartheid.
Quando Nelson Mandela foi enterrado esta semana, a sua luta contra o apartheid foi devidamente celebrada na Austrália, embora a ironia estivesse ausente. O apartheid foi derrotado em grande medida por uma campanha global da qual o regime sul-africano nunca se recuperou. Um opróbrio semelhante raramente deixou marca na Austrália, principalmente porque a população aborígene é tão pequena e porque os governos australianos têm conseguido dividir e cooptar uma liderança dividida com gestos e promessas vagas. Isso pode estar a mudar. Uma resistência está a crescer, apesar de tudo, nas terras centrais aborígenes, especialmente entre os jovens. Ao contrário dos EUA, Canadá e Nova Zelândia, que fizeram tratados com o seu povo original, a Austrália tem apresentado gestos muitas vezes incluídos nas leis. Contudo, no século XXI o mundo exterior começa a prestar atenção. O espectro da África do Sul de Mandela é uma advertência. "
Eu ficava ofendido, é claro, mas também sabia que apenas o Oceano Índico separava as atitudes raciais das duas nações coloniais. Do que eu não estava consciente era de como a semelhança provocou tamanho sofrimento entre o povo original do meu próprio país. Quando crescia, meus livros escolares haviam deixado claro, para citar um historiador: "Nós somos civilizados e eles não são". Recordo como a uns poucos talentosos jogadores da Aboriginal Rugby League foi permitido atingirem sua glória desde que eles nunca mencionassem o seu povo. Eddie Gilbert, o grande jogador aborígene de críquete, o homem que bateu Don Bratman com um resultado zero ( duck ) , foi impedido de jogar outra vez. Isso não era atípico.
Em 1969 voei para Alice Springs no coração vermelho da Austrália e encontrei-me com Charlie Perkins. Num tempo em que o povo aborígene nem sequer era contado no recenseamento – ao contrário dos carneiros – Charlie era apenas o segundo aborígene a obter um grau universitário. Ele tem feito bom uso desta distinção liderando "campanhas itinerantes" ("freedom rides") em cidades racialmente segregadas no sertão australiano da Nova Gales do Sul. Ele apanhou a ideia das campanhas itinerantes nas que se verificaram no Sul Profundo (Deep South) dos Estados Unidos.
Alugámos um velho Ford, apanhámos a mãe de Charlie, Hetti, uma anciã do povo aranda, e fomos para o que Charlie descreveu como "inferno". Era Jay Creeki, uma "reserva nativa", onde centenas de aborígenes eram encurralados em condições que eu só tinha visto na África e na Índia. De uma torneira do lado de fora pingava um líquido castanho; ali não havia instalações sanitárias; a comida, ou "rações", era fécula e açúcar. As crianças tinham pernas finas como palitos e barrigas inchadas pela desnutrição.
O que me impressionou foi o número de mães e avós enlutadas – desoladas pelo roubo de filhos pela polícia e autoridades do "bem-estar" que, durante anos, haviam levado aquelas crianças com pelo mais clara. A política era a "assimilação". Hoje, isto mudou apenas no nome e na racionalização.
Os rapazes acabariam a trabalhar em fazendas dirigidas por brancos, as meninas como serviçais em lares da classe média. Isto era trabalho escravo não declarado. Eles eram conhecidos como a Geração Roubada. Hetti Perkins contou-me que quando Charlie era criança ela teve de mantê-lo atado às suas costas e escondia-o sempre que ouvia o tropel dos cavalos da polícia. "Eles não o levaram", disse ela, com orgulho.
Em 2008, o primeiro-ministro Kevin Rudd pediu desculpas por este crime contra a humanidade. Os aborígenes mais velhos ficaram gratos; acreditaram que o primeiro povo da Austrália – a mais duradoura presença humana sobre a terra – podia finalmente receber a justiça e o reconhecimento que lhe fora negado durante 220 anos.
O que poucos deles ouviram foi o PS adicional das desculpas de Rudd. "Quero ser categórico acerca disto", disse ele. "Não haverá indemnização". Que a 100 mil pessoas profundamente ofendidas e marcadas pelo ódio racista – resultado de uma forma de movimento eugenista com ligações ao fascismo – não fosse dada qualquer oportunidade para restabelecerem suas vidas era chocante, embora não surpreendente. A maior parte dos governos em Canberra, conservadores ou trabalhistas, tem insinuado que os primeiros australiano são culpáveis pelo seu sofrimento e pobreza.
Quando o governo trabalhista na década de 1980 prometeu "plena reparação" e direitos à terra, o poderoso lobby mineiro avançou com o ataque, gastando milhões a fazer campanha de que "os negros tomariam nossas praias e cerca de arame farpado". O governo capitulou, muito embora a mentira fosse grotesca; o povo aborígene mal chega a três por cento da população australiana.
Hoje, crianças aborígenes estão outra vez a ser roubadas das suas famílias. As palavras burocráticas são "removidas" para "protecção da criança". Em Julho de 2012 havia 13.299 crianças aborígenes em instituições ou entregues a família brancas. Hoje, o roubo destas crianças é mais intenso do que em qualquer momento durante o último século. Entrevistei numerosos especialistas em cuidados infantis que encaram isto como uma segunda geração roubada. "Muitos dos garotos nunca vêem outra vez as suas mães e comunidades", disse-me Olga Havnen, autora de um relatório para o governo do Território do Norte. "No Território do Norte, foram gastos $80 milhões na vigilância e remoção de crianças e menos de $500 mil no apoio a estas famílias empobrecidas. Muitas vezes não é dado qualquer aviso às famílias e elas não têm ideia para onde os seus filhos foram levados. A razão apresentada é negligência – o que quer dizer pobreza. Isto é destruir a cultura aborígene e é racista. Se o apartheid da África do Sul tivesse feito isto, teria havido um alvoroço".
Na cidade de Wilcannia, Nova Gales do Sul, a esperança de vida dos aborígenes é de 37 anos – mais baixa do que na República Centro-Africana, talvez o país mais pobre da Terra, actualmente devastado pela guerra civil. Outra distinção de Wilcannia é que o governo cubano realiza ali um programa de alfabetização, ensinando jovens aborígenes a ler e escrever. É nisto que os cubanos são famosos – nos países mais pobres do mundo. A Austrália é um dos mais ricos do mundo.
Filmei condições semelhantes há 28 anos atrás, quando fiz meu primeiro filme acerca dos indígenas da Austrália, The Secret Country . Vince Forrester, um ancião aborígene que então entrevistei, aparece no meu novo filme, Utopia. . Ele levou-me a uma casa em Mutitjulu onde viviam 32 pessoas, na maior parte crianças, muitos deles a sofrerem otite média, uma doença infecciosa totalmente evitável que prejudica a audição e a fala. "Setenta por cento das crianças nesta casa está parcialmente surda", disse ele. Voltando-se directamente para a minha câmara, disse: "Australianos, isto é o que nós chamamos um insulto aos direitos humanos".
A maioria dos australianos raramente é confrontada com o segredo mais sujo da sua nação. Em 2009, o respeitado Relator Especial das Nações Unidas, Professor James Anaya, testemunhou condições semelhantes e descreveu as políticas de "intervenção" do governo como racistas. O então ministro para a Saúde Indígena, Tony Abbott, para "fazer algo útil" e parar de ouvir "a brigada da vítima". Abbott é agora o primeiro-ministro da Austrália.
Na Austrália Ocidental são escavados minérios da terra aborígene e despachados para a China com um lucro de mil milhões de dólares por semana. Neste, o estado mais rico e mais próspero, as prisões enchem-se com aborígenes esmagados, incluindo jovens cujas mães postam-se às portas da prisão, suplicando pela sua libertação. Aqui o encarceramento de australianos negros é oito vezes superior ao dos negros sul-africanos durante a última década do apartheid.
Quando Nelson Mandela foi enterrado esta semana, a sua luta contra o apartheid foi devidamente celebrada na Austrália, embora a ironia estivesse ausente. O apartheid foi derrotado em grande medida por uma campanha global da qual o regime sul-africano nunca se recuperou. Um opróbrio semelhante raramente deixou marca na Austrália, principalmente porque a população aborígene é tão pequena e porque os governos australianos têm conseguido dividir e cooptar uma liderança dividida com gestos e promessas vagas. Isso pode estar a mudar. Uma resistência está a crescer, apesar de tudo, nas terras centrais aborígenes, especialmente entre os jovens. Ao contrário dos EUA, Canadá e Nova Zelândia, que fizeram tratados com o seu povo original, a Austrália tem apresentado gestos muitas vezes incluídos nas leis. Contudo, no século XXI o mundo exterior começa a prestar atenção. O espectro da África do Sul de Mandela é uma advertência. "
19/Dezembro/2013 Texto de John Pilger
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